João Pessoa, 14 de junho de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Os resultados da pesquisa Arapuan-Opinião divulgados ontem resultaram em comemoração nas hostes socialistas em relação ao resultado da candidata Cida Ramos, que obteve 11%.
Eu tenho dúvidas se é o caso para tanto animação. Se o parâmetro for o desempenho de João Azevedo, certamente Cida mostrou uma evolução, mas nós já estamos em junho e o eleitorado, bem ou mal, começa a se definir. E Cida é a candidata do governador Ricardo Coutinho, o que, por si só, é um fator a impulsionar qualquer candidatura em João Pessoa.
Mas, se o parâmetro for o desempenho da candidatura de Estela Bezerra, quatro anos atrás, é bom a militância socialista multiplicar seus esforços porque o quadro pode não ser tão favorável como se imagina.
Em 20 de maio de 2012, a pesquisa Datavox conferia a Estela Bezerra 9,8%, em um quadro ainda de indefinição porque não havia consenso no PSB sobre a candidatura da atual deputada estadual, já que o então prefeito Luciano Agra ainda mantinha a disposição de concorrer.
Ou seja, o desempenho de Estela Bezerra é semelhante ao de Cida Ramos em um período próximo. Claro que muitos haverão de trazer para discussão o argumento – corretíssimo, aliás – de que cada eleição tem sua própria história.
Mas, se de uma eleição para outra a conjuntura mudou, eu deve acrescentar que mudou em benefício de Cida Ramos. Vejamos porquê.
1) A começar pela aprovação do governador Ricardo Coutinho em João Pessoa, padrinho político tanto de Estela quanto de Cida. Em 2012, o desgaste de RC em João Pessoa era um fato amplamente reconhecido e que, certamente, teve tanto rebatimentos negativos na candidatura de Estela quanto deu fôlego aos outros candidatos.
2) O PSB estava dividido, o que levou a definição final da candidatura socialista até junho, quando Luciano Agra, que tinha direito à reeleição, foi preterido, e isso prejudicou imensamente o desempenho de Estela. Além do mais, empurrou Agra para os braços de Cartaxo, fato definidor daquela eleição.
3) Os candidatos que Estela Bezerra enfrentou tinham outra estatura política, eleitoral e partidária: José Maranhão e Cícero Lucena, ambos ex-governadores, e Luciano Cartaxo, candidato do PT com o apoio da máquina da prefeitura herdada do racha do PSB. Hoje, ao contrário, Cida enfrenta nas pesquisas, além do próprio Cartaxo, candidato à reeleição, Manoel Júnior, enredado na Lava Jato e com vínculos explícitos com Eduardo Cunha, o inexpressivo Wilson Filho, do PTB, e Charliton Machado, do PT, envolto no turbilhão que levou ao afastamento de Dilma Rousseff e que ainda é uma grande incógnita se isso o ajudará ou afundará sua candidatura.
5) Em prejuízo de Cida Ramos é necessário registrar que a candidata do PSB enfrenta um prefeito no cargo, o que, por exemplo, não foi o caso de Estela Bezerra, em 2012. Se isso tem alguma relevância, recomenda-se observar os percentuais de derrota de candidatos que concorrem à reeleição no Brasil. E Cida enfrentará um prefeito que, como mostra a pesquisa, mantém um avaliação positiva acima do percentual de 60%. A campanha na TV pode – repito, pode – ajudar a ampliar esse desempenho, como, aliás, ajudou a impulsionar o desempenho de Ricardo Coutinho, em 2014, que, por essa época, pontuava abaixo dos 30%.
Um outro aspecto importante é que Cartaxo não tem o mesmo perfil de José Maranhão e Cássio Cunha Lima, ambos derrotados sucessivamente pelo PSB em João Pessoa. Não será fácil, como foi em 2010 e 2014, estabelecer a dicotomia novo X velho, renovação X tradicionalismo político.
É bom lembrar também que Estela Bezerra, em 2012, não tinha o mesmo prestígio político que tem hoje, deputada estadual que é. O mesmo acontece com Cida Ramos que, assim como Estela, atuou como Secretária de Desenvolvimento Humano do governo estadual. Em ambos os casos, foram candidaturas que precisaram ser construídas ao longo da campanha eleitoral, o que é um elemento dificultador em qualquer situação.
Enfim, se comemorar resultado de pesquisa faz parte do jogo é bom os socialistas colocarem as barbas de molho. Os números da pesquisa Arapuã-Opinião mostram que há um longo e perigoso caminho pela frente.
Cartaxo continua favorito.
OPINIÃO - 22/11/2024