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Escolas paraibanas

Quase três mil professores foram agredidos

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publicado em 22/01/2018 ás 14h36
atualizado em 22/01/2018 ás 18h27

Não são apenas policiais que temem pela integridade física na profissão. De acordo com uma pesquisa do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2015 quase três mil professores e funcionários de escolas sofreram agressões na Paraíba.

Os casos podem ser físicos ou verbais. Quase três anos depois do período analisado, a tendência tem sido que os números aumentem. Segundo o presidente da Associação Paraibana dos Professores em Licenciatura Plena, Bartolomeu Pontes, os casos são cada vez mais comuns.

O motivo, segundo Bartolomeu, é a fragilidade dos professores diante dos alunos. Para o presidente, a legislação acaba ‘protegendo’ os alunos, que são menores de idade, e por isso, alguns estudantes se aproveitam para intimidar os ‘mestres’.

“Em casos de agressão, o professor pode fazer a denúncia mas como [os alunos] são menores de idade, acaba não acontecendo nada e o professor fica desmoralizado e tem que conviver com o aluno na própria escola”, explica.

Bartolomeu conta que não são poucas as histórias de professores que desistem da profissão por conta de situações de agressão. “Tem muitos professores em estado de depressão, ansiedade, medo porque não confia mais, nem se sente seguro dentro da escola”, disse.

De mãos atadas, muitos docentes se sentem inseguros em colocar faltas, dar notas baixas, ou aplicar qualquer advertência no aluno. Uma professora que não quer ser identificada, foi ameaçada por um estudante depois de convidá-lo a participar de uma atividade.

“No primeiro dia de aula, levei os alunos na quadra. Chamei um aluno para participar, ele disse que não queria. Aí expliquei a ele que era bom, até que ele disse: ‘Se você não sair daqui, eu vou quebrar o seu braço”, contou a docente, identificada como R.

A professora expulsou o aluno da sala, e no outro dia ele se desculpou. Ela explica que já foi xingada algumas vezes, mas tenta relevar os episódios, apesar do medo.

Isso porque, a profissional admite que se sente comovida pela situação familiar de alguns estudantes. Alguns são filhos de usuários de drogas, abandonados pelos pais, criados por terceiros.

Em um misto de emoções, R não esconde o desespero. “Me sinto desprotegida, desamparada. Onde moro não há policiamento, então é fechar os olhos para o que acontece”, desabafa.

Cenas de violência

Um outro professor, que também não quis ser identificado, viveu uma situação ainda mais complicada. Ele foi agredido por seu aluno.

“Pedi para que ele se retirasse da sala, ele não quis sair, a vice-diretora foi chamada. Ele continuou se recusando a sair. Com o término da aula, ele se levantou da cadeira, pediu para que um aluno que estava em minha frente saísse do caminho, e jogou uma cadeira em mim”, conta.

O professor ainda pensou em levar o caso para o conselho tutelar, mas decidiu solucionar a situação conversando com o aluno. Segundo o docente, o aluno pediu desculpas e apresentou uma grande melhora.

Apesar do desfecho, o professor se vê longe de estar satisfeito. “Essa realidade de desrespeito ao professor precisa ser combatida. Há muitos professores reféns de alunos”, contou.

Anuário de Segurança

Os dados coletados e divulgados pelo Anuário de Segurança se referem a professores, e funcionários da escola. O passado do Estado confirma o histórico de agressão.

Em 2014, um vigilante que fazia a segurança dos alunos e professores do Lyceu Paraibano foi morto a tiros no hall de entrada do prédio da escola, que é uma das mais antigas e tradicionais de João Pessoa. O crime aconteceu durante o horário de aulas.

Carol Queiroz – MaisPB