João Pessoa, 28 de setembro de 2018 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em 2017, no estado da Paraíba, mais de 4,9 mil alunos ingressaram em cursos de engenharia. Em contrapartida, 4.724 desistiram da graduação, de acordo com o Censo da Educação Superior. Desse número, 35 trocaram de curso, 1.463 trancaram a matrícula e 3.226 se desvincularam da universidade. No ano passado, o estado ofereceu mais de 8,1 mil vagas distribuídas entre cursos ofertados por instituições públicas e privadas nas áreas de engenharia, como engenharia civil, elétrica, mecânica, computação, química, engenharia de produção, materiais e automotiva.
O Brasil está entre os países com o menor número de engenheiros. Enquanto a Coreia, a Rússia, a Finlândia e a Áustria contavam com mais de 20 engenheiros para cada 10 mil habitantes, o Brasil registrava, em 2014, apenas 4,8 graduados em engenharia para o mesmo universo de pessoas, no mesmo período. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), sistematizados pela Associação Nacional de Educação em Engenharia (Abenge), apesar do ingresso em cursos superiores ter aumentado, passando de 6,5% para 15,1%, entre 2001 e 2016, a evasão aumentou de 5,1% para 10,6% no mesmo período.
Para a diretora de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Gianna Sagazio, o alto índice de desistência mostra a fragilidade e a necessidade da modernização do ensino de engenharia, que, segundo ela, ainda segue o modelo idealizado há mais de 30 anos.
“O mundo está mudando muito rapidamente e a gente precisa preparar os nossos profissionais, os nossos engenheiros, para enfrentar esses desafios que já estão colocados aqui. Se a gente não tiver engenheiros preparados para os impactos dessa revolução digital, a gente não vai conseguir ser um país competitivo e nem gerar qualidade de vida para a nossa população”, ressalta.
A especialista em educação em engenharia da Universidade de Brasília (UnB), Maria de Fátima Souza, destaca que o baixo número de escolas de engenharia e a falta de adoção de tecnologias de ponta também colaboram para que o Brasil forme poucos engenheiros. Além disso, para a especialista, o principal fator da desmotivação dos alunos está relacionado à forma como as disciplinas são desenvolvidas em sala.
“Por exemplo, a parte de cálculo. Existe um problema grave que desmotiva os alunos e que talvez seja a razão dessas taxas altíssimas de evasão, que é o fato de a disciplina de cálculo ser levada mais ensinando procedimentos para a resolução de problemas, do que necessariamente entendendo como você aplica os conceitos”, afirma Maria de Fátima.
Propostas para a modernização do ensino de engenharia
Em junho deste ano a Confederação Nacional da Indústria encaminhou aos candidatos à presidência da República, propostas para a atualização do currículo dos cursos de engenharia identificadas a partir de um trabalho conjunto entre a CNI, líderes empresariais e reitores de importantes universidades, no âmbito da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI).
Gianna Sagazio explica que foram definidos três eixos estratégicos para modernizar o ensino das engenharias no país: a modernização das diretrizes curriculares e metodologias, aprimoramento do sistema de avaliação e a valorização do trabalho dos docentes.
De acordo com Gianna, para o Brasil avançar e se tornar um país inovador “é importantíssimo que a formação privilegie o domínio das competências ligadas ao desenvolvimento e à gestão de projetos, habilidades como o empreendedorismo, a liderança, a criatividade, a facilidade de trabalho em equipes multidisciplinares e a capacidade de aprendizagem autônoma”.
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