João Pessoa, 19 de junho de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Piracicaba (SP) avalia que os responsáveis pelo cartaz que listou intimidades sexuais de estudantes da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), campus da USP na cidade, em uma espécie de ‘ranking’, incorreram em três crimes: homofobia, difamação e calúnia.
O presidente da OAB, Fabio Ferreira de Moura, apontou que os crimes de difamação e calúnia aconteceram pelo ato de expor a intimidade sexual das alunas da instituição com termos de baixo calão, como “teta preta”, e identificá-las por apelidos. Já a homofobia é caracterizada porque a lista também cita homossexuais.
A Esalq disse que abriu sindicância para apurar o caso. O episódio já entrou na esfera criminal e também será investigado pela Polícia Civil, conforme anunciou o delegado seccional José Daher, na noite desta quinta-feira (18). Para o presidente da entidade, as vítimas devem auxiliar nas investigações procurando uma delegacia para registrar um boletim de ocorrência.
“O que aconteceu não foi trote ou qualquer outro tipo de brincadeira. Foram crimes que expõem pessoas e causam um grande abalo psicológico. Se a vítima não tiver um apoio familiar, pode inclusive abandonar o curso. Isso infelizmente já aconteceu em alguns outros casos e veio à tona, por exemplo, na CPI dos Trotes”, disse Moura.
CPI dos Trotes
Em janeiro, alunos da Esalq prestaram depoimento na Assembleia Legislativa de São Paulo a respeito do ritual de entrada na universidade.
Houve relatos de agressões que resultaram em fraturas e a obrigatoriedade de comer alimentos estragados misturados a vômito.
“A recorrência significa que é uma coisa sistemática. Tem um grupo dentro da universidade que defende os valores propostos nesse cartaz. Após a CPI houve sindicâncias, mas que ainda não geraram sentenças. A universidade precisa educar e enfrentar seriamente essa questão”, disse o professor Antonio Ribeiro de Almeida Junior, da Esalq, que pesquisa abusos nas universidades há 14 anos e chegou a relatar casos de violência à CPI dos Trotes.
Ele disse ainda que o ranking comprova a existência de uma cultura da discriminação no campus. “O cartaz tem caráter de assédio e conteúdo difamatório intencional. É uma afronta”, ressaltou.
G1
OPINIÃO - 22/11/2024