João Pessoa, 01 de novembro de 2010 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Aos 50 anos de idade, Ricardo Coutinho chega ao posto máximo da hierarquia estadual carregando debaixo do braço mais do que uma vitória consagradora. Ricardo vence toda a “cultura” e lógica política da Paraíba.
Oriundo dos movimentos sociais e dono de currículo vitorioso, o socialista entrou na política com os próprios pés, sem tradição familiar e sem padrinhos, tão comuns na vida pública paraibana.
Em 2010, atravessou e enfrentou sua maior prova de fogo: ser candidato ao Governo contra um dos mais poderosos políticos do Estado, sentado na cadeira mais cobiçada do Palácio da Redenção.
Ricardo Coutinho vence derrotando o tradicional e histórico poder da máquina pública estatal. Só sabe o gigante tamanho do peso da estrutura estadual quem se vê lutando contra ela.
E na Paraíba, infelizmente, os governantes não guardam qualquer pudor quando precisam usar a força do Governo para esmagar os adversários. Nem que precisem cometer ilegalidades, fazer promessas falsas, dar cartadas de última hora e usar o erário ao bel prazer.
Ricardo Coutinho vence derrotando a classe política paraibana, segmento que majoritariamente embarcou na candidatura do governador José Maranhão, tão logo o peemedebista assumiu o Governo. Coutinho viu então aliados se debandando para as cercanias da Granja Santana. Basta lembrar que Maranhão atraiu 12 partidos para sua coligação, mais de 160 prefeitos e ainda o apoio público e expresso do PT e do presidente Lula.
Ricardo Coutinho vence derrotando também o poder de influência dos institutos de pesquisa. Todos, sem exceção, projetaram durante todo o primeiro turno a vitória folgada de Maranhão.
Quem acompanha os bastidores e conhece o fisiologismo da política paraibana sabe bem dimensionar os efeitos que os números causaram. A cada pesquisa, mais adesões e perspectiva de poder para Maranhão. Do outro lado, menos doadores e sufoco para a campanha de Ricardo.
Ricardo Coutinho também vence a força da "grande" imprensa da Paraíba, espalhada da Capital ao Interior. Na condição de jornalista fico muito a vontade para tocar nessa ferida e provocar uma reflexão entre colegas e meios de comunicação. Qual é mesmo a força da mídia?
Bem articulada, a coordenação de campanha do PMDB foi operosa no quesito comunicação. Conseguiu abafar notícias positivas e maximizar todas as informações negativas do adversário, além de ter mostrado competência na super exposição do governador. Tanto que quem ousou fugir dessa lógica pagou um preço.
Por tudo isso, quem não gosta, não engole, não suporta ou simplesmente votou contra, tem todo o direito de assim ter feito, mas por dever de Justiça até estes precisam reconhecer e tirar o chapéu para quem teve coragem de enfrentar e vencer todas as adversidades possíveis numa campanha e dela sair com uma vitória maiúscula.
Líder – Cássio Cunha Lima é um caso a se estudar. Apeado do poder, sem mandato, sem mídia e alvo preferencial da imprensa, o ex-governador mostrou o tamanho de sua força perante os paraibanos, especialmente entre os campinenses. Provou ao PSDB que estava certo quando construiu a aliança com o PSB, se elegeu senador e teve papel fundamental na vitória de Ricardo. Não bastasse tudo isso, ainda deu a José Serra uma vitória emblemática em Campina Grande com 60% dos votos.
Gesto – Depois das urnas, confesso ter sido surpreendido pelo governador. Imaginei sinceramente que Maranhão poderia ser seduzido por alguns talibãs a novamente convocar entrevista para decretar o terceiro turno na Justiça. Em nota, o peemedebista demonstrou serenidade ao reconhecer a derrota e se colocar a disposição do novo governador. Um gesto de grandeza, símbolo do fim da tresloucada e infrutífera guerra política na Paraíba.
Efeitos I – O governador eleito, Ricardo Coutinho, chega ao comando dos destinos do Estado extremamente fortalecido e com uma grande tarefa. Será o responsável pela condução de um novo ciclo político e tem a missão de unificar conceitualmente as antagônicas forças partidárias na construção de um projeto de desenvolvimento estadual.
Efeitos II – A onda em torno de Ricardo traz ares de mudança também pelo interior à fora. Em pequenos municípios, onde os prefeitos mandam e governam com mão de ferro, a população surpreendeu e derrotou líderes locais. Foram inúmeros casos nos quais prefeitos aliados de Maranhão não conseguiram conter o sentimento do povo.
Marizópolis – Um exemplo foi registrado na minha terra natal. Apoiado pelo prefeito José Vieira da Silva e ainda parte da Oposição, Maranhão venceu na cidade com pouco mais de 300 votos de maioria. O fato tem simbologia forte na política local, onde até 2008 o prefeito tinha fama de imbatível e dava vitórias esmagadoras aos seus apoiados. Desta vez, o povo de Marizópolis mandou um recado curto e grosso a quem governa a cidade há 14 anos: tudo tem seu tempo. É preciso repensar posturas, antes que, em 2012, no lugar de recado o povo resolva logo virar a página.
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