João Pessoa, 31 de agosto de 2015 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A primeira coisa que você nota sobre a americana Jessica Cox, 32, é que ela não tem braços. Tudo bem, ela está acostumada os olhares. Mas quando você conhecer a primeira piloto sem braços e faixa preta do mundo, você descobre que a deficiência não define quem ela é.
Cox nasceu sem os membros e logo cedo se adaptou à sua condição. Os médicos não encontraram uma explicação para seu caso. Ela pratica esportes regularmente e trabalha como palestrante motivacional. À Marie Claire americana, Cox falou sobre sua rotina e como entrou para a história da aviação.
MC: Ser a primeira pessoa sem braços a pilotar um avião é bastante impressionante.
JC: Se você me perguntasse sobre a obtenção de uma licença de piloto antes de 2005, eu diria que você estava louca. Depois de me formar na faculdade, um piloto de caça me perguntou se queria voar em um monomotor. Sempre tive um medo de estar em um avião, mas aceitei a oportunidade. Fiquei viciada e fiz um comentário sobre me tornar um piloto. Queria motivar os outros a não deixarem o medo ficar no caminho das oportunidades.
MC: De que exatamente você tinha medo?
JC: Bem, era perder o contato com o solo, não a altura em si. Sempre fui destemida, eu gostava de escalar e olhar para baixo a partir de novas alturas. Mas talvez fosse a falta de controle [que deu medo]. Logo aprendi que, se você pode voar um avião com competência, você pode voar com segurança, mesmo se algo acontecer.
MC: Em seu site, está escrito: “Foram necessários três estados, quatro aviões, dois instrutores de voo e um ano desanimador para encontrar a aeronave certa.” Por que demorou tanto tempo até conseguir a licença em 2008?
JC: Não só era um medo emocional, que não me parou, mas era mais um desafio logístico. Aviões não são projetados para serem pilotados com os pés. Eu voei em um Ercoupe, que é o único sem pedais no leme. Ele não é um avião que foi modificado por mim, ele não foi construído para mim. Eventualmente encontrei um Parrish Traweek com o qual treinei, pois possuía seguro que permitia uso por estudantes.
MC: Como é estar no ar?
JC: Decolar não é nada assustador, mas aterrissar, sim. Quando está no ar, você sente aquela sensação de liberdade sem limites.
MC: Você não é um caso de amputação, pois nasceu sem braços e sem explicação médica. Foi frustrante não ter nenhuma compreensão sobre seu corpo quando era mais jovem?
JC: Me incomodou um pouco porque estava muito insistente em encontrar uma resposta. A maioria das crianças são curiosas sobre o que os torna como são. Fui até minha mãe e perguntei: “Por que estou diferente? Tem tantas pessoas ao meu redor com braços …” Pelo que vi, eu era a única que não tinha.
Foi um tempo especialmente difícil para a minha mãe. Meus pais não tinham ideia de que eu iria nascer com uma deficiência. Ela teve uma gravidez normal e ela estava animada que seria primeira menina. Na maioria das vezes, é mais [chocante] para os pais do que a criança, porque ela não conhece nada diferente. Este é o meu normal e eu amadureci para aceitar [a condição].
MC: Você optou por alguma prótese?
JC: Usei aos 11 anos. Elas se tornaram parte da minha rotina diária: Eu as colocava assim como vestia um casaco (ou equipamento de futebol) para a escola. Eu tinha muita paciência com elas e com a terapia, mas eu não gostava. Minha mãe sabia disso, mas ouviu do especialista que eu precisava delas durante o desenvolvimento. Os médicos diziam que se eu não aprendesse a usá-las enquanto era mais jovem, não havia nenhuma chance de que seria capaz de usá-los na vida adulta. Eles tinham que ter certeza de eu teria esta opção. Veio o oitava ano, aos 14, e eu me livrei delas.
MC: Por que você decidiu finalmente abandoná-las?
JC: É difícil explicar isso para alguém com braços, você não consegue imaginar algo diferente. Como nasci assim, pareceu mais natural fazer tudo com os pés. Além disso, não há nada como a sensação de sentir as coisas com carne e osso. Senti-me muito estranha com as próteses. Você as coloca nos ombros e apoia com o peitoral. Elas são pesadas e desconfortáveis. Se alguém lhe dá um abraço, você não quer perder o toque. Elas foram mais como uma gaiola para mim.
MC: Assisti ao vídeo em que você toca piano, come com hashi, digita em um teclado, tudo com os pés. Como você treinou para fazer todas essas atividades consideradas “normais”?
JC: Não vi isso como um treinamento, mas como adaptação, assim como uma criança de 3 anos de idade aprende as letras na pré-escola. Todo mundo aprende durante a infância na fase de desenvolvimento, e eu passei por todos os estágios normais. Houve um pouco de atraso para engatinhar [e andar], porque a maioria das crianças usa os braços para se apoiar nos móveis e se levantar. Eu fiz terapia para aprender a andar e, provavelmente, comecei a [andar] de dois a três meses mais tarde do que as crianças em geral.
MC: E para se vestir?
JC: Ah sim, se vestir é um processo. Eu sempre digo que é a tarefa física mais difícil para alguém sem braços. Colocar uma camisa não foi nada demais, mas vestir calças e calcinha foi uma questão quando era criança. Levei de 10 a 11 anos de descobrir um sistema que iria funcionar. Eu uso um gancho que prende na parede, parecido com aqueles que ficam atrás das portas para pendurar roupas. Posso levar para qualquer lugar que for.
MC: Basicamente, você arrebenta na vida e também é faixa preta. Por que você quer começar a praticar taekwondo?
JC: Quando tinha 10 anos, minha mãe matriculou a mim e meus irmãos no taekwondo porque pensou que seria uma maneira fenomenal de fazermos algo juntos como família. Além disso, eu tendia a aliviar minha raiva e frustração em chutes e, infelizmente, meus irmãos eram os alvos. Minha mãe precisou me colocar em algo que canalizaria minhas emoções de uma forma muito positiva, e, de acordo com o meu irmão, realmente ajudou.
Eu imaginei que iria conseguir a faixa-preta, e quatro anos mais tarde consegui a minha na Federação Internacional de Taekwondo. Eu parei por um tempo e voltei novamente na faculdade. Eu me matriculei numa escola e ganhei a minha segunda faixa preta na Associação Americana de Taekwondo. Tenho praticado desde o segundo ano da faculdade, em 2002, e agora sou um faixa preta de terceiro grau.
G1
OPINIÃO - 22/11/2024