João Pessoa, 01 de janeiro de 2010 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um dia como outro qualquer no calendário, mas no subconsciente coletivo uma data que mexe com o interior dos sujeitos.
31 de dezembro é sempre carregado de nostalgia dos 364 dias passados. Nascem as interrogações, morrem algumas aspirações, ressuscitam novos planos.
Foi nesse clima que me deparei na tarde do último dia de 2009. O pensamento voava entre as inúmeras conquistas profissionais, os presentes que só Deus poderia dar, a reconquista de um sonho plantado no coração e mais os dissabores amargados.
Teria sido um ano mágico, se não fosse a maior perda de todas até aqui. Aquela que não se recupera por mais esforço físico ou mental empreendido. Uma batalha terrena perdida.
Vi no retrovisor do meu carro, cortando a Ruy Barbosa, cenas de minha infância, flashes de um tempo feliz.
No espelho da vida, a imagem de um amor tão forte que nem a eternidade seria capaz de desfalecer.
O sorriso meigo e tímido, bem no canto da boca. Um jeito simples de ser, sem grandes ambições. Uma lealdade sem dimensão. Um coração sempre pronto para perdoar.
Essa é a imagem do homem que mais amei nesta terra. O irmão que dividi minhas brincadeiras infantis. O abraço mais verdadeiro e fraterno. A torcida mais sincera.
A irreverência. A inocência. O despreendimento. O jeito menino de encarar a vida, sem medo dos perigos. Perigos que conviveu e os levaram até o caminho do fim.
23 anos. Como foi pouco. Teria tanto pra dizer. Tantos sonhos pra sonhar juntos. Como eu queria você perto de mim. Deus sabe e você também.
A distante São Paulo nos afastou. Para sempre.Quantas vezes ouvi tua voz a perguntar pelas coisas daqui. Não sabia que seriam as últimas
palavras.
Domingo. 1° de novembro. Duas da tarde. A notícia jamais imaginada ou esperada. O mundo caiu.Como pássaro triste, bato asas pra perto de você. Sem esperança. Também baleado por dentro.
O prédio frio me espera. Você me recebe com os últimos acordes do teu coração. Eu sei que estavas me esperando, ainda que nada pudesse transmitir.
Como doeu. Um amor inerte, sucumbido pelo disparo do mundo. Olhos cerrados e os meus desaguando feito barragem rompida.
Me aproximo como quem não quer acreditar no pesadelo que o real insiste em mostrar. Eu só queria mais uma chance pra nós dois: pra você levantar e eu te ajudar a ficar de pé.
Não foi possível. Você dormiu diante dos meus olhos tão parecidos com os teus. Acaricio tua face, já sem sinais de vitalidade. Desabo. Desabafo. Mergulho na dor. Invoco o senhor.
Quase sem crer, ainda te incentivo a lutar. Não dava mais. Teu corpo já perdera todas as forças.
Sussurro bem próximo da tua cabeça ferida. Ouvistes tudo pela audição do espírito.
Já era dia dois de novembro. Que triste coincidência. O dia amanhece para o mundo. Para mim, a noite não terminava.
Com o peito devastado de dor, apenas algo me levava a diante: a nobre missão de te trazer nos meus braços de volta ao lar que por tanto tempo fomos felizes.
Voamos juntos pelos céus. De vez em quando a vontade de contar algo novo que havia visto ou presenciado. Em segundos, a frustração.
Como gostaria de ter feito aquela viagem rindo e brincando de nossas trapalhadas e estripulias juvenis.
Chegamos juntos ao nosso destino. A casa que por tanto tempo sediou as nossas alegrias estava tomada pelo luto.
A última missão estava cumprida. A jornada mais dura da minha vida. Hoje sigo em diante, porque sei que assim queres e torce. Estou bem. Creio firmemente que estás em paz.
O que não pudestes terminar por aqui, pode deixar que eu farei por você. Henzo não ficará só.
Mainha e mãe sofrem. Você era o maior tesouro que elas acumularam neste plano, mas Deus dará o bálsamo da consolação.
Prometo cuidar direitinho dos teus sobrinhos tão amados. Obrigado por ter tatuado Herla, tua "velhinha", no braço e na alma.
Por aqui muitas saudades. Já é 2010. Um ano novo. O primeiro sem tua presença física.
Aqui do outro lado, olho para o infinito azul. Pela brisa te mando um beijo terno.
Hernon. Eu te amo, meu irmão.
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