João Pessoa, 15 de dezembro de 2009 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho (PSB), e o seu coletivo podem até se esforçar, ensaiar discursos, arquitetar frases de efeito, mas não vão conseguir convencer a si mesmos que estão fazendo a mais coerente aliança política para tentar chegar ao Palácio da Redenção.
Por mais que Ricardo seja o beneficiário do apoio (voto não se rejeita) e não o adesista, fica díficil pronunciar o verbo coerência com algum poder de convencimento perante o eleitorado que o viu combater por anos seguidos os "Cunha Lima" e os "Morais" da política paraibana.
Ricardo tem um objetivo, do qual não abre mão e nem mede esforços: vencer o Governo da Paraíba. Percebeu que só tem chances de alçar tão alto vôo sendo extremamente pragmático, somando apoios, mesmo aqueles mais indigestos a sua brilhante trajetória de lutas sociais e perfil combativo.
Ele sai do campo das utopias e da retórica esquerdista para caminhar pelo atalho das composições que lhe garantam bases, estrutura partidária, cabos eleitorais e palanque vitaminado.
Entre sentir o gosto amargo do isolamento político, carregando "sozinho" a bandeira da "terceira via" ou fazer alianças com os partidos completamente distantes da sua prática ideológica, mas capazes de ajudá-lo a chegar ao topo da hierarquia estadual, Ricardo optou pela segunda opção.
O "mago" não será o primeiro e nem o último a dar uma guindada de 360 graus no tabuleiro eleitoral. Quem em estado normal de neurônios não aceitaria a adesão de um senador da República, cinco deputados estaduais e dois federais e a iminente debandada de praticamente todo o PSDB e do ex-governador Cássio Cunha Lima?
Agora ele está certo. Não estava quando no passado – ao lado de outros radicais – enchia a boca para combater certos grupos políticos, dando impressão que jamais um dia estaria aliado a estes. Vendia mercadoria que não podia entregar. Os fatos atestam.
Não é a primeira aliança questionável do socialista. Em 2004, para chegar ao Paço Municipal, o então deputado Ricardo Coutinho também precisou engolir todas as denúncias e petardos que desferiu contra o então governador José Maranhão. Cedeu até a vice ao PMDB.
A história se repete. Agora os protagonistas desta nova "peça" são outros. Todos acostumados ao roteiro da ficção política estadual, prontos para mais um papel a ser acompanhado com contemplação pelo público predominantemente passivo
O "novo" Ricardo deve ter analisado a relação benefício-desgaste para enveredar por este caminho estratégico. Acostumado aos mais ferozes embates, o prefeito da capital terá certamente oratória para driblar os questionamentos que virão.
Não sei se terá o mesmo "jogo de cintura" para lidar com a prática dos mais recentes aliados, carentes de atenção, mimos, cargos e e$trutura para bater de porta em porta o Estado pedindo votos, como o próprio Ricardo apelou na pré-convenção do DEM.
O "jeito" democrata de fazer política difere alguns kilômetros da "práxis" dos militantes socialistas, acostumados a empunhar bandeiras movidos apenas pelo ideal de luta e crença nas convicções pessoais.
Será que Ricardo manterá a mesma postura arredia, de poucas palavras, trato distanciado, anti-social, e pulso firme quando o assunto é preenchimento de cargos e aparelhamento da máquina pública?
Não é gastar saliva lembrar que os novos "amigos" perderam recentemente um dos mais benevolentes governos quando o assunto era "prestigiar" os parceiros. Tem bezerro sedento por um peito abundante. Encontrarão leite quente em Água Fria?
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