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‘Protestei para pedir ajuda’, diz brasileiro detido nu no Vaticano

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publicado em 04/03/2016 ás 08h46

O brasileiro Luis Carlos Giampaoli, de 44 anos, que foi detido ao entrar pelado na Basílica de São Pedro, no Vaticano, no dia 4 de janeiro deste ano, voltou para o Brasil há uma semana e está morando na residência da sua irmã, em Laranjal Paulista (SP). Luis ficou internado durante um mês em um hospital psiquiátrico na Itália após ser detido pelos seguranças. Em entrevista ao G1, ele afirmou que não se arrepende do que fez e ficou nu para protestar contra a falta de solidariedade em Roma.

“Eu não me arrependo do que fiz. Fui para a Itália para poder arrumar um trabalho, pois estava desempregado no Brasil. Sou técnico de enfermagem, já trabalhei com gastronomia  e, como consegui cidadania italiana, achei que minha vida mudaria em Roma. Aluguei meu apartamento em São Paulo e fui para Itália. Porém, não tinha muito dinheiro e esperava ficar em um albergue. Mas, quando fui pedir ajuda, me falaram que não tinha vaga. Ninguém me ajudou e cheguei a ficar na rua por dias. Foi então que resolvi fazer uma manifestação no Vaticano contra a falta de caridade, pois o albergue que queria ficar é ligado ao Vaticano”, afirma.

De acordo com Luiz, a ato foi justamente chamar a atenção das autoridades e planejou dias antes como seria a manifestação na Basílica de São Pedro.

“Eu quis protestar para mostrar que estava limpo de coração e só queria ajuda. Como já havia feito um teatro em que ficava nu no palco, pensei em protestar dessa maneira para chamar a atenção. Me escondi em uma cortina, onde tirei a calça e a camiseta. Fiquei apenas de tênis e a mochila. Em seguida, caminhei pela Basílica de São Pedro e gritei que não há solidariedade em Roma. Após o protesto, me emocionei e comecei a chorar. Eu me despi com alegria no coração”, afirma.

O brasileiro conta que, após ser detido pelos seguranças, um médico que estava pela Basílica afirmou que Luis teria que ir para um hospital receber atendimento. “Foi então que me levaram para um hospital psiquiátrico. Fui muito bem atendido, medicado e aconselhado pelos funcionários e assistentes sociais. Eu estava desesperado para ter ajuda. O tempo que fiquei lá foi bom. Depois de receber alta, eles ainda me deram assistência e acabei ficando no albergue, o mesmo que queria ficar quando cheguei”, conta.

Luis ainda afirmou que a volta ao Brasil não foi por deportação, isto é, por obrigação. Ele foi convidado a sair do país. “Eu não fui deportado e nem extraditado, fui convidado a sair do país. Tanto é que meu irmão quem comprou a passagem de volta e cheguei no dia 25 de fevereiro. Como meu apartamento em São Paulo está alugado, vim para a casa da minha irmã em Laranjal Paulista. Mas, continuo tendo minha cidadania italiana”, diz.

Agora, o desejo do brasileiro é poder se recolocar no mercado de trabalho. “Estou sem dinheiro e precisando de ajuda financeira. Minha irmã está desempregada também e não temos nem fogão em casa. Sem contar que preciso comprar medicamentos para a depressão que foram transcritos pelos médicos italianos. O que eu mais quero é poder arrumar um emprego e sair dessa situação”, afirma.

Questionado se quer voltar para a Itália no futuro, Luis afirmou que sim. “Se eu tiver uma oportunidade, por que não? O que aconteceu ficou como experiência e sou grato pela minha família e amigos que me compreenderam e ajudaram. Serviu para ver que na Itália há muita gente sem ajuda e desempregada. Como falei no protesto, falta solidariedade em Roma. Mas, se tiver uma oportunidade de trabalho ou até para passear, eu vou sim.”

Entenda o caso
Luis Carlos Giampaoli entrou pelado na Basílica de São Pedro em 4 de janeiro, dias depois de chegar à Itália.

A invasão foi filmada por um turista. No vídeo, ele parece desorientado, usa apenas meias, tênis e carrega uma mochila preta. Giampaoli levanta os braços e grita que não há solidariedade em Roma, dizendo que demorou 17 anos para conseguir a esperada cidadania italiana e que teve que dormir nas ruas. Ele caminhou nu pela nave da Basílica e se aproximou do Baldaquino sobre o Altar Papal, até que foi contido por seguranças, que o cobriram com um casaco.

Em entrevista ao G1 em 6 de janeiro, a irmã Claudia João Paulo contou que Giampaoli se mudou para São Paulo (SP) há alguns anos e que sempre estudou muito. “Foi técnico de enfermagem e trabalhou em diversos hospitais da capital, como o Hospital das Clinicas e o Hospital São Paulo. Já fez gastronomia e também trabalhou como chef, chegou a cozinhar para o governador do estado. Também já fez curso de teatro lá em São Paulo. Ele é muito estudado, muito inteligente, não sei por que fez isso”, questionou na época.

G1