João Pessoa, 23 de março de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Jô Soares diz que quer evitar o desgaste de um formato que ele mesmo ajudou a popularizar no Brasil, o talk-show.
Queria sair de forma digna e não de maneira melancólica. Deixar saudade e não incômodo — afirma o apresentador, aos 78 anos.
A declaração vem a reboque do fim do “Programa do Jô’’. A última temporada da atração, segundo ele acordada com antecedência, estreia na próxima segunda-feira. E deixa a grade definitivamente em dezembro. Na própria segunda, ele entra no estúdio para gravar a primeira entrevista. Depois de enfrentar problemas de saúde que o tiraram do ar por mais de um mês em 2014, Jô diz que volta “tinindo”. Por tinindo leia-se também sem receio de falar de política, assunto que o transformou em alvo de críticas no ano passado. “Agora quero trazer pessoas contra e a favor do impeachment’’, adianta. Há 28 anos à frente de talk-shows, o humorista — que comandou o “Jô Soares onze e meia”, no SBT, antes de seguir para a Globo, em 2000 — evita adiantar o que fará a partir do ano que vem. Atualmente, Jô dirige uma peça, prepara um livro e diz que a TV ainda é uma de suas prioridades.
Como foi decidido o encerramento?
Há dois anos, ao renovar meu contrato, conversei com a emissora e concluímos: “Vamos ter que marcar uma data para encerrar o programa”. Achamos que dois anos seria o tempo ideal para não correr o perigo do desgaste. Queria sair de forma digna e não de maneira melancólica. Prefiro deixar saudade do que incômodo. As pessoas falam com carinho até hoje do “Viva o Gordo” (1981-1987), do “Planeta dos homens” (1976-1982), do “Faça humor, não faça guerra”(1970-1973). Quero isso para o “Programa do Jô”.
Qual balanço faz dos 28 anos à frente dos talk-shows?
É quase impossível fazer um balanço. Entrevistei personalidades como Fernando Henrique Cardoso, Dom Helder Câmara… Lula foi 13 vezes ao programa, a última às vésperas das eleições. Teve aquela entrevista com a Dilma que causou a maior celeuma (em junho do ano passado). Até o Collor eu entrevistei antes de ele ser presidente. Depois ele que não quis ir mais.
Você sofreu com as críticas de que teria sido pouco contundente ao entrevistar a presidente Dilma Rousseff?
Não vou deixar de entrevistar um presidente em nenhuma circunstância, e não posso ficar abalado por críticas. A função jornalística é trazer fatos e não tomar posição. Por exemplo, agora quero trazer pessoas contra e a favor do impeachment. Mas não tomei partido na entrevista com a Dilma. Fiz as perguntas que tinha que fazer, perguntas duras. Ela foi se safando. Não entrei em debate com ela, não era essa a minha função.
O Globo
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