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Professor de História pela UFPB e analista político

A política do “lá e lô”

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publicado em 13/04/2016 ás 09h10

Existem dois movimentos em curso na política pessoense que visam as eleições municipais e que se tornaram mais claros da semana passada para cá.

O primeiro foi a declaração de Luciano Cartaxo de que era contra o impeachment da presidenta Dilma em razão da inexistência de crime de responsabilidade.

O segundo foi a paquera, que ao longo dessa semana tornou-se um compromisso de namoro assumido, entre o PPS de Nonato bandeira e o PSB do governador Ricardo Coutinho.

Antes disso, o vereador Raoni Mendes, agora um demo-efrainsista de carteirinha, apareceu na lista de possíveis candidatos a vice-prefeito na chapa de João Azevedo, do PSB.

A declaração de Cartaxo, especialmente considerando as circunstâncias políticas nacionais, soaram como um aceno à militância que hoje transcende a esquerda e o petismo e se agrega em torno da ampla bandeira da defesa da democracia e do Estado democrático de direito.

Cartaxo tentou penetrar num terreno que continua sendo dominado pelos socialistas do PSB. Tanto que figuras de proa do partido, a exemplo da secretário Cida Ramos, questionaram o que, segundo ela, era uma tardia manifestação de apoio à luta contra o impeachment e, portanto, um oportunismo político.

Se é ou não oportunismo Lula, Dilma e aqueles que hoje tem como prioridade número um impedir que a presidenta seja afastada do cargo, só tem a comemorar.

Como é possível observar nas movimentações na Câmara que precedem a votação do impeachment, o posicionamento de Cartaxo veio em boa e na hora certa, a não ser que se pense ser essa uma luta que tenha dono e cujo objetivo vá além do de defender o mandato da presidenta conquistado nas urnas.

Movimento à direita do PSB

Enquanto isso, no outro front, João Azevedo – que, a exemplo de Cartaxo, até agora não deu as caras nas manifestações contra o impeachment − consolida uma aproximação com figuras proeminentes do oposicionismo conservador ao governo federal com promessas de generosos espaços no futuro governo e na chapa socialista para a prefeitura.

O PPS de Nonato Bandeira, sob a presidência do ex-comunista e hoje serrista Roberto Freyre, faz a mais renhida

oposição no Congresso ao governo petista. Nonato concedeu uma entrevista recente em fez coro com o reacionarismo que domina os discursos das manifestações antiDilma.

E o vereador Raoni Mendes, apesar de jovem, é um conservador no sentido mais tradicional do termo. Mendes é ligado a seguimentos de direita da Igreja Católica, portanto, no campo oposto ao discurso renovador e tolerante do Papa Francisco.

Raoni tem a vantagem de emprestar um ar mais jovem à candidatura do “gerente” João Azevedo, mas certamente agrega à chapa um viés mais conservador para atender ao ranço antipetista que se consolidou em parte do eleitorado.

Enquanto o governador acena para a esquerda, o seu candidato a prefeito se perfila com direitistas.

Recomenda-se mais cuidado ao PSB na análise da conjuntura de radicalização político-ideológica que tende a se aprofundar, especialmente se o impeachment de Dilma Rousseff prosperar e ascender ao poder um governo liderado por Michel Temer e o PMDB.

Esse tipo de chapa meio-termo pode se tornar um movimento desastrado, cujo questionamento pode impedir o crescimento de um candidato que tem como principal desafio se tornar conhecido do eleitorado.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB