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Jornalista desde 2007 pela UFPB. Filho de Marizópolis, Sertão da Paraíba. Colunista, apresentador de rádio e TV. Contato com a Coluna: [email protected]

Impeachment: nem golpe, nem salvação

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publicado em 18/04/2016 ás 10h46
atualizado em 18/04/2016 ás 10h52
dilmatemer

Dilma e Temer, produtos da mesma engenharia, agora afastados pela circunstância política

Poderia se dizer muito da histórica sessão de ontem na Câmara Federal. São várias as possibilidades de abordagem e análise do resultado que impôs flagrante e indiscutível derrota ao governo da presidente Dilma Rousseff. Para recortar um olhar, basta ficar com o discurso das alas contra e a favor do impedimento da petista.

O afastamento, claro, não servirá para acabar a corrupção no País, como pregaram muitos oradores e eleitores do impeachment. A corrupção, constatada na Lava Jato, assola e atola praticamente todos os partidos da base e até da oposição. Muitos do que puxaram esse mote estão arrolados em inquéritos ou debaixo de suspeitas.

O day after após a iminente cassação de Dilma não será fácil e o vice, Michel Temer, não é bem lá o que podemos chamar de redenção do Brasil para saída de uma crise política e econômica das mais agudas que já experimentamos.

Formado por ampla maioria, o resultado também não é golpe, como repetem à exaustão histéricas vozes em defesa do governo. Todos os passos desse traumático processo obedeceram regras constitucionais, sob forte vigilância da maior Corte de Justiça do Brasil, o Supremo Tribunal Federal.

O que a presidente fez nos empréstimos ilegais a bancos públicos para maquiar a contabilidade oficial e a edição de decretos e operações financeiras sem o endosso do Congresso é sim crime de responsabilidade e este não pode ser minimizado.

O descontrole orçamentário e financeiro da presidente, além de desprezo e estupro à Lei de Responsabilidade Fiscal, uma conquista da nossa democracia recente, foi determinante para empurrar o Brasil ao caos econômico em que o governo nos meteu.

O governo gastou mal, enganou a Nação, provocou rombo nas finanças e mentiu o tempo todo. Quando pego em crime, se limitou a desconsiderá-lo, como se o estrago e o bilionário dano não tivesse sido consumado em forma de desemprego e desmantelo econômico.

Quando esses delitos se somam ao assalto à Petrobrás para financiar o projeto político do PT, as escancaradas tentativas de obstrução da investigação policial e judicial, com direito a testemunho do ex-líder do governo, a paralisia do Brasil e à ojeriza de maioria substancial da população ao governo, a situação de Dilma ficou absolutamente insustentável. E o mandato, dado pelas mesmas ruas que hoje suplicam pelo abreviamento, não pode estar acima de tudo. Tem que estar abaixo.

Não foi golpe e nem Michel Temer é a solução. Mas esse é o caminho constitucional. É o que garantiu Dilma, eleita e reeleita, sua defesa e sua permanência no poder até aqui. E é o que pode também legitimar sua saída.

Na prática…
Diferente de governadores aliados de Dilma no Nordeste, Ricardo Coutinho (PSB) não conseguiu cabalar votos em favor da petista.

…No discurso
Após a votação, Ricardo Coutinho continua sustentando posição contrária ao procedimento, chamado por ele de “farsa”.

Passo a…
O senador Cássio Cunha Lima (PSDB), um dos próceres do processo, acertou na previsão dos bastidores. A casa dos 360 votos.

…Passo
Cunha Lima assistiu o desenvolvimento da votação da Câmara no Gabinete da Liderança do Senado.

raimundo-liraO voto de Lira
Em contato com a Coluna, o senador Raimundo Lira (PMDB-foto), pouco depois do início da votação, reafirmou sua posição favorável ao afastamento da presidente, na esteira do seu partido. Ele desmentiu o placar da Veja, que lhe coloca como indeciso. “Já mandei vários emails corrigindo essa informação e eles não consertaram”, afirmou.

BRASAS
*Menção – Líder do PSC, André Moura (SE) fez questão de citar o suplente paraibano Marcondes Gadelha na hora do voto.

*Trio – Dono do 336º voto a favor do impeachment, o deputado Veneziano Vital (PMDB) fez suspense até a última hora, mas votou igual a Hugo Motta e Manoel Júnior.

*Poesia – Pedro Cunha Lima (PSDB) optou por apresentar seu voto em versos, mesmo diante de parecer pessoal contrário do líder da bancada.

*Até o fim – Aliado de Cunha no Conselho de Ética, Wellington Roberto segurou o voto contra o impeachment, seguindo parte do PR.

*Na veia – Damião Feliciano (PDT) cumpriu o que vinha pedindo o coração do seu partido, detentor do Ministério das Comunicações.

*Holofote – Efraim Filho (DEM), favorável ao impeachment, passou quase toda a votação no centro da imagem dos oradores.

*Limite – Rômulo Gouveia (PSD) confirmou o que já vinha sentindo há meses; o governo perdeu o prumo.

*Decisão – “Eu sou líder da maioria e não da minoria”, justificou Aguinaldo Ribeiro (PP) ao votar pelo impedimento.

*Matemática – Entusiasta do impeachment, Benjamin Maranhão chegou cedo à Câmara e visitou liderança por liderança para fazer as contas.

FALA CANDINHA!
De dona Candinha, depois de ouvir as menções deslocadas dos parlamentares na hora do voto no impeachment: “Definitivamente, os nossos políticos só pensam na família…”.

PONTO DE INTERROGAÇÃO
Quanto tempo ainda dura a vida útil de Eduardo Cunha?

Luiz CoutoPINGO QUENTE
“A população vai reagir contra os traíras”. Do deputado federal Luiz Couto (PT), na tribuna da Câmara.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB