João Pessoa, 30 de abril de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Antes que pudesse se mudar para um dormitório na Brigham Young University ou se inscrever nos cursos do primeiro ano, Brooke teve de assinar o Código de Honra da faculdade, no Estado de Utah (oeste dos EUA).
Uma espécie de bússola moral e também um contrato, o código é um elemento essencial na vida de quase 30 mil estudantes dessa universidade dirigida por mórmons. Ele orienta os alunos, os professores e os funcionários para “virtudes morais incluídas no evangelho de Jesus Cristo”, valorizando a castidade, a honestidade e a virtude.
Ele exige trajes discretos no campus, desestimula o sexo consentido fora do casamento e, entre outras coisas, proíbe o consumo de bebidas e drogas, intimidades homossexuais e indecências, assim como má conduta sexual.
Mas depois que Brooke, 20, relatou à universidade que um colega a havia estuprado no apartamento dele, em fevereiro de 2014, ela disse que o Código de Honra se tornou um instrumento para puni-la. Ela contou à universidade que havia tomado LSD naquela noite, e também que tivera um encontro sexual anterior com o mesmo aluno que supostamente a coagiu.
Quatro meses depois de denunciar o ataque, ela recebeu uma carta do reitor associado de estudantes.
“Você está sendo suspensa da Universidade Brigham Young por ter violado o Código de Honra, incluindo o uso continuado de drogas ilegais e sexo consensual, com efeito imediato”, dizia a carta.
Nas últimas semanas, Brooke e algumas outras alunas se manifestaram, primeiro em uma conferência de conscientização sobre o estupro e depois no jornal “The Salt Lake Tribune”, para dizer que depois que fizeram queixas de abuso sexual elas enfrentaram investigações pelo Código de Honra sobre se haviam consumido álcool ou drogas, ou feito sexo consentido.
“Eles me trataram de uma maneira anticristã, como se eu fosse uma pecadora”, disse Brooke, que concordou em ser identificada só pelo prenome. “Não havia perdão ou compaixão.”
Seus relatos causaram um debate nacional sobre o tratamento desigual dado às mulheres que relatam abuso sexual neste campus de orientação religiosa, que recebe estudantes mórmons do mundo inteiro. Aqui as saias devem cobrir os joelhos e as barbas são proibidas.
As queixas das mulheres chamaram a atenção para como a universidade lida com esses casos, enquanto também tenta respeitar o código moral que ocupa o centro de sua identidade.
A política da Brigham Young sobre má conduta sexual pede que os alunos se apresentem mesmo que tenham infringido as regras universitárias. A universidade diz que investiga plenamente as denúncias de agressão sexual, mas que também tem a obrigação de processar a má conduta de acordo com o Código de Honra.
Segundo a política de má conduta sexual, as violações de seu código, que desestimula o sexo consensual, não estão isentas de escrutínio.
UOL
OPINIÃO - 22/11/2024