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Professor de História pela UFPB e analista político

Eleições em tempo de crise

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publicado em 07/06/2016 ás 11h15

Quem acha que o PT acabou como partido pode ter uma grande surpresa quando os resultados das eleições de 2016 forem divulgados.

É certo que o partido deve perder uma quantidade expressiva das prefeituras que conquistou há quatro anos – uma parte delas resultado do abandono, por atos de pura covardia e descompromisso com a própria história, de prefeitos eleitos pela legenda, como aconteceu aqui em João Pessoa.

Mas nem de longe representará a morte do partido que Luiz Inácio Lula da Silva ajudou a fundar no início dos anos 1980.

E um dos motivos é o próprio Lula, que conseguirá manter em alta a expectativa de poder do partido, ajudado pela proximidade que ainda mantém com esse amplo contingente de eleitores de baixa renda que melhorou de vida ou ascendeu socialmente nos últimos anos, especialmente quando o petista estava na presidência.

Amplos setores médios voltaram a se reunir e a se mobilizar produzindo um caldeirão de reinvindicações que exprimem bem a heterogeneidade e complexidade de uma sociedade que começa a ter uma clara dimensão do que ela se tornou.

É torno da defesa dos direitos civis da nova sociedade brasileira e da superação dos gargalos históricos do Brasil jamais enfrentados, estes últimos nem por Lula, que esse novo Brasil moderno começa a se reunir. O PT não os dirige, mas é o único partido com tamanho e organização capaz de reuni-los, o que será o oxigênio que o partido preciso para se renovar.

O Brasil ainda vai amadurecer os resultados do processo de impeachment de Dilma Rousseff, que ajudou a desnudar esses traços de uma decadente elite política que luta para manter a política brasileira no passado.

Os brasileiros começam a descobrir, por exemplo, com um certo traço de horror, o nítido descompasso que existe entre a sociedade brasileira que emergiu nas últimas cinco décadas, especialmente nos últimos quinze anos, e sua representação parlamentar, onde predomina o conservadorismo elitista, untado do fisiologismo mais torpe, que é a verdadeira razão para que o país seja mantido sob o controle desses grupos.

Desde o fatídico momento em que os deputados começaram a ir ao microfone anunciar, em cadeia nacional, seu “Sim” para a abertura do processo de impeachment, outro de Rubicão histórico brasileiro, o Brasil começou a assistir a um circo de horrores.

Em seguida, veio o anúncio do ministério de homens brancos e de direita, que não podiam ser outra coisa a não ser a expressão legítima dessas bancadas do obscurantismo, do cinismo e da hipocrisia que hoje formam  maioria do Congresso Nacional.

Depois, vieram os vazamentos das gravações dos homens do “presidente” Temer, que expuseram ao mundo as intenções golpistas de um agrupamento de partidos (PMDB, Dem, PPS, PSDB, só pra citar os mais importantes) e instituições, que, sem muita surpresa, inclui o próprio STF.

A aprovação em tempos de crise de um aumento escandaloso de quase 20% para o Judiciário – a categoria mais bem aquinhoada do serviço público, com salários e todo tipo de “ajudas” que tornam os juízes brasileiros verdadeiros “marajás”, −, dá a exata dimensão de quem hoje controla, de cabo a rabo, os poderes da República: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário brasileiros, esse condomínio do reacionarismo.

É nesse ambiente em que serão realizadas as eleições de 2016. Apenas PT, PCdoB – menos o da Paraíba − e PSOL se propõem hoje a representar esses setores da sociedade que emergiram da luta contra o impeachment.

Qual é o tamanho deles? Muita gente vai se surpreender quando obtiver essa resposta.

Depois eu volto para comentar as chances de Charliton Machado.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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