João Pessoa, 28 de junho de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Mal tinha sido digerido o resultado do referendo que decidiu pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia (UE) e começaram a pipocar nas redes sociais relatos sobre episódios racismo e xenofobia em várias cidades do país.
Internautas compartilharam e comentaram incidentes nos quais pessoas foram hostilizadas por causa da cor de sua pele ou de sua etnia.
Ainda não está claro se o resultado do referendo provocou a onda de hostilidade ou se apenas evidenciou algo que já vinha acontecendo.
A ex-candidata a parlamentar pelo Partido Conservador Shazia Awan, que participou da campanha no País de Gales pela permanência da Grã-Bretanha na União Europeia, diz ter sentido “a diferença em como as pessoas passaram a agir” desde o momento em que a campanha se focou na questão da imigração algumas semanas antes do pleito.
Ela disse que durante a campanha conversava com uma mulher negra, quando um homem passou pelas duas e ofendeu sua interlocutora.
Pouco depois de escrever no Twitter que o premiê David Cameron – que liderou a campanha pela permanência do país na UE, se opondo a vários membros de seu próprio partido – era a “a coisa menos ruim” do Partido Conservador, recebeu uma mensagem “dizendo que eu deveria arrumar minhas malas e ir para casa”.
“E eu nasci em Caerphilly, no País de Gales”, conta ela. “Eu não gosto do que isso significa para todos nós”.
Awan afirma que o governo deveria fazer mais para lidar com as consequências do resultado do referendo, “pois uma coisa muito perigosa foi desencadeada”.
“O resultado tem legitimado o ódio racial das pessoas. Apesar deles não serem a maioria, eles são uma minoria intolerante que faz barulho e está machucando toda a comunidade”.
“Há uma falha no governo em reconhecer o que está acontecendo, e isso diz muito sobre o estado da política na Grã-Bretanha no momento”.
Poloneses
Houve também relatos de episódios de hostilidade contra a vasta comunidade polonesa no país. Em Huntingdon, foram distribuídos cartões com os dizeres “Chega de vermes poloneses” em domicílios e escolas.
Uma internauta, Kathleen Gaynor, postou cartões do tipo encontrados por sua mãe – e outras pessoas também relataram ter encontrado os mesmos.
Gaynor disse que sua mãe encontrou o cartão na porta de sua casa sob uma pedra. Seus vizinhos são poloneses e ela acredita que o cartão era dirigido a eles.
Segundo Gaynor, sua mãe ficou “chocada, furiosa, não conseguia acreditar”.
A polícia de Cambridgeshire está investigando o caso e trabalhando “próximo à comunidade afetada”.
O superintendente Martin Brunning disse que “produzir e distribuir este ou outro material similar é cometer o crime de incitar ódio racial, que é punido com pena máxima de sete anos de prisão”.
“Todos os relatos de crime de ódio no país serão plenamente investigados”.
Em Londres, a polícia investiga uma pichação em um prédio da associação polonesa de Hammersmith.
O embaixador da Polônia no Reino Unido, Witold Sobkow, disse estar “chocado e profundamente preocupado com os recentes incidentes de xenofobia dirigidos contra a comunidade polonesa e outros residentes de origem estrangeira”.
O premiê David Cameron condenou os “execráveis” incidentes de crime de ódio no país. Falando perante o Parlamento, ele disse que houve casos de “abuso verbal” dirigido a minorias étnicas nas ruas, e disse que ataques do tipo têm de ser erradicados.
“Temos a responsabilidade fundamental de reunir nosso país” após o plebiscito, disse Cameron. “E não vamos aceitar crimes de ódio e ataques do tipo.”
Sinais preocupantes
Quando a internauta Sarah Childs viu publicações abusivas no Twitter, decidiu colocar o tema em evidência.
“Eu esperava que isso acontecesse porque havia muitas coisas ruins dos dois lados da campanha pelo referendo”, disse ela.
Childs é branca e britânica. Ela formou um grupo na internet com amigos descendentes de indianos e de paquistaneses. Uma página que eles criaram no último domingo – a Worrying Signs (Sinais Preocupantes) – já reúne mais de 10,5 mil membros.
“Queríamos criar um espaço para as pessoas que se sentiam inseguras”, explica Sarah. O grupo compila diversos casos e publicações com conteúdo intolerante na rede.
“Acho que é fácil para as pessoas repudiar incidentes isolados de abuso, mas é mais difícil ignorar se as experiências são reunidas em um só local”, disse.
G1
OPINIÃO - 22/11/2024