João Pessoa, 06 de setembro de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em quase um ano de Frente a Frente, prestes a completar na TV Arapuan, a conversa que tive ontem com o deputado federal Damião Feliciano (PDT) está entre as mais agradáveis entrevistas que fiz e, presumo, no rol das melhores.
Damião é econômico em aparições e exposições longas. Tradicionalmente, o deputado de quinto mandato prefere a discrição e aparece mais em seu próprio programa semanal de rádio, onde se comunica diretamente com a população.
Por esse aspecto, a entrevista já ganharia ar de revelação. O ambiente da conversa proporcionou um bate-papo muito além da política e a oportunidade de se conhecer melhor um político vitorioso, pelas origens humildes e pela raça negra, num Estado de representantes brancos e produtos de oligarquias familiares.
Damião faz questão de se situar como um dos 22 negros de uma Câmara Federal de 513 parlamentares. Uma condição que lhe fez rememorar a infância difícil de menino pobre ao lado de outros dois irmãos e a felicidade de ter em dona Mariana, dona de casa, a mãe que insistiu, persistiu e formou todas as crias em Medicina, contrariando todas as expectativas.
“Minha mãe teve trigêmios e por falta de tecnologia na época os três morreram. Depois eu e meu irmão, uma barriga de gêmeos, sobrevivemos”, contou com emoção.
Feliciano falou aberta e francamente sobre discriminações de cor que foi vítima, mas sem os ranços de costume. Lembra de situações que viveu e vive até em tom de bom humor, com o coração livre de mágoas ou frustrações. Abriu moderada dissidência do viés das lutas de movimentos negros e até certa crítica ao formato da política de cotas.
Contou descontraidamente parte da trajetória marcada pela ousadia. A começar de quando terminou a faculdade e decidiu fazer especialização em cardiologia, um ramo até então restrito aos filhos de ricos. De São Paulo, trouxe técnica inovadora de cirurgia cardíaca e fez sucesso em Campina Grande.
A fama lhe projetou para a política. Outro gesto de ousadia; começar enfrentando alta e pesada concorrência como candidato a deputado federal. Frustrando previsões contrárias, se elegeu o segundo mais votado de 1998 e em quinze dias o candidato desacreditado, o negro filho de dona Mariana, estava na cabeceira de uma restrita reunião com o presidente reeleito Fernando Henrique Cardoso.
Com um jeito simples e peculiar, o deputado falou da família, o momento em que seus olhos mais brilharam no programa. Ao ver uma foto dos filhos, esposa, noras e genro juntos, voltou a se emocionar e a declarar amor e gratidão à mulher, Lígia Feliciano, a quem atribui o impulso e a companhia que lhe fizeram acreditar e persistir.
Muitas outras histórias foram reveladas e o homem de carne e osso apareceu mais do que a imagem e o paletó do político. Bom para o público de casa, que conheceu mais de perto uma figura humana de alto astral, risonha, humana e que fez dos obstáculos e preconceitos o combustível para vencer. Na vida e na política.
Posição…
Um dos três parlamentares da bancada federal a ser contra o impeachment, Damião reiterou sua posição.
…Mantida
“Ela não praticou crime”, sustenta Feliciano, para quem o crime de Dilma foi ter perdido o controle da economia.
Na ponta…
Sobre a sucessão de 2018 na Paraíba, tema que causa expectativa na classe política, Damião foi na veia.
…Da língua
Ele não fez cogitação sobre os planos do PDT e da vice-governadora Lígia: “Esse é um cenário que depende da decisão do governador”.
Curto-circuito
A sessão de hoje na Assembleia registrou fato inusitado. O deputado Raniery Paulino (PMDB-foto) questionou a aparição do nome do presidente Adriano Galdino na contabilidade do painel de votação. A Secretaria Legislativa admitiu o equívoco, mas afastou qualquer má fé.
BRASAS
*Contrataque – As inserções do PSD, com a voz de Manoel Júnior, denunciaram a presença de uma irmã na Secretaria que Cida Ramos (PSB) comandava.
*Resistência – Pessoalmente, Luciano Cartaxo relutou em responder ou confrontar Cida com o tema, mas foi convencido.
*Monitoramente – As quali da campanha de Luciano mostravam que os ataques não surtiram o efeito esperado pela campanha socialista.
*Intuição – A articulação, entretanto, achou melhor se pronunciar e depois reagir ao tiro. O eleitor se inclina a não querer acusação sem resposta.
*Garoto propaganda – O governador Ricardo Coutinho já gravou mensagens de apoio aos seus candidatos nos principais municípios da Paraíba.
FALA CANDINHA!
Contagem regressiva
De Dona Candinha sobre o deputado Damião Feliciano: “Todo dia ele risca menos um dia no calendário”.
PONTO DE INTERROGAÇÃO
Quem é o candidato a vereador de João Pessoa preferido de Ricardo?
PINGO QUENTE
“Eu agora tenho duas datas de aniversário”. Do juiz José Ferreira Ramos Júnior, dizendo que renasceu ao escapar de tentativa de assalto e homicídio, na BR-230.
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