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Professor de História pela UFPB e analista político

João Pessoa: O que dizem as pesquisas

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publicado em 16/09/2016 ás 12h36

Dizer que pesquisa eleitoral na Paraíba é uma instituição desmoralizada é algo tão repetitivo que já virou lugar comum. Mesmo assim, continuam a gerar o mesmo burburinho, as mesmas especulações, o mesmo inútil debate.

Três pesquisas de intenção de voto para prefeito de João Pessoa foram divulgadas nos últimos dias (Datavox, 6Sigma e IBOPE) e revelaram disparidades entre si, e não apenas nos percentuais de votos dos candidatos.

As diferenças são tão gritantes que parecem que foram realizadas em cidades diferentes. Principalmente, quando se trata do desempenho do candidato à reeleição, Luciano Cartaxo: a diferença entre os números dos três institutos quando aferem o desempenho eleitoral do atual prefeito de João pessoa chega a superar os dez pontos percentuais, e vai numa gradação de 5% entre cada pesquisa!

Na 6Sigma, Cartaxo tem 42,0%; na Datavox, sobe para 48%; no IBOPE, chega a 53%! Nem diferenças de métodos explicam tamanha disparidade.

No caso do desempenho de Cida Ramos, candidata do PSB-PTB, as variações também acontecem. Uma expressiva diferença de seis pontos percentuais novamente se verifica entre os números da 6Sigma e IBOPE (23,2% e 29%, respectivamente).

Essas diferenças também podem ser notadas quando são aferidos os desempenhos do Professor Charliton, do PT, e Vitor Hugo, do PSOL, E em relação aos indecisos e eleitores dispostos a votar em banco ou anularem o voto. Aqui, a diferença entre 6Sigma e IBOPE é superior a 11%!

As disparidades entre as pesquisas são tantas que os resultados da Datavox são quase a média dos obtidos pela 6Sigma e pelo IBOPE. Algum instituto está errado e vendendo gato-por-lebre ao eleitor, certamente com a anuência de quem “encomenda” a pesquisa.

A comprovação disso nós teremos quando começarem a convergir os percentuais dos candidatos quanto mais a eleição se aproxima, como sempre acontece.

 CartaxoCidaCharlitonVitor HugoBranco/nulo

 

Indeciso

 

6Sigma42,9%23,2%.1,5%0,7%10,8%17,1%
Datavox48%,27%,0,8%0,5%10,5%13%
IBOPE53%29%2%2%15%6%

Tendências?

Vamos partir do pressuposto de que essas pesquisas tem algo a dizer a respeito do quadro eleitoral e, portanto, os números divulgados podem revelar alguma coisa.

Nesse caso, a primeira constatação a ser feita é de que o prefeito Luciano Cartaxo continua favoritíssimo, o que não surpreende se considerarmos o histórico das disputas em João Pessoa, quando a cidade reelegeu, em sequência, Cícero Lucena, em 2000, e Ricardo Coutinho, em 2008.

Apesar de Cartaxo não ostentar o peso eleitoral dos dois quando enfrentaram essas disputas, em razão de uma administração frágil em vários campos, a razão para tal talvez se encontre na contribuição inestimável da campanha de sua principal adversária, Cida Ramos, que cresce, como era previsível que acontecesse, mas ainda incapaz de ameaçar a posição do candidato à reeleição.

Certamente, o desempenho como candidata do PSB é decepcionante. Com um campo aberto para crescer no rastro do prestígio do governador e da azeitada máquina política que o PSB tem na capital, a candidata começou a derrapar nos primeiros debates de TV, quando se mostrou insegura e pouco consistente, deixando margem para o questionamento de sua experiência.

Em seguida, quando começou o guia na TV, passou do ponto nas críticas à administração Cartaxo e pareceu raivosa. Ao invés de primeiro apresentar ao eleitorado suas credenciais pessoais, programáticas e administrativas, o que era essencial para uma candidata ainda desconhecida.

Os estrategistas da campanha de Cida Ramos tentaram colar em Cartaxo a pecha de nepotista e nos dez primeiros, decisivos e preciosos dias da campanha insistiram nesse discurso.

Só esqueceram – ou não foram avisados – de que a candidata era adepta da mesma prática, quando manteve uma irmã na Secretaria do governo do estado da qual Ramos foi titular até abril.

Era o “sujo falando do mal lavado”, como ironizou o candidato do PT, Professor Charliton, em seu guia eleitoral. Tanto que a campanha de Cida Ramos mudou de assunto instantaneamente quando foi apontada tamanha incoerência e jamais voltou a tocar no assunto.

Além disso, não estão muito claras para o eleitor as diferenças políticas entre Cida Ramos e Luciano Cartaxo porque ambos fazem uma campanha que negam, em parte, aquilo que dá sentido à própria política.

As alianças dos dois, por exemplo, são meros ajustamentos eleitorais, sem que consigam expressar de maneira clara as diferenças que dão sentido a um “projeto”, como gosta de repetir o governador Ricardo Coutinho.

Os pragmáticos de sempre haverão de torcer o nariz para essa afirmação, mas numa cidade como João Pessoa, essa questão tem cada vez mais relevância. É bom que não se subestime a capacidade de discernimento do eleitorado.

Charliton

O ótimo desempenho do Professor Charliton em debates e entrevistas parece não ter ainda se refletido nas pesquisas. O fato de ser desconhecido de parcela expressiva do eleitorado, e de pertencer ao PT, um partido que vive nacionalmente um cerco político-midiático que procura demonizá-lo, esses dois fatos tem sem dúvida influenciado nos baixos índices do professor.

Mesmo assim, acredito que o potencial de crescimento de Charliton é muito maior do que os percentuais obtidos por ele nessas pesquisas.

Primeiro, por conta da base social do PT, sobretudo se considerarmos o clima de radicalização política do país. Segundo, como já foi ressaltado, pelo desempenho do candidato, além de um guia de qualidade técnica e política, que precisa de alguns ajustes, mas cumpriu bem o papel até agora.

Acredito que os números de Charliton tenderão a crescer na reta final, o que estranhamente sempre acontece com candidatos petistas. Aliás, para que se vislumbre pelo menos a possibilidade de um segundo turno, hoje ainda distante, o crescimento tanto de Charliton quanto de Vitor Hugo é essencial.

Enfim, a 17 dias da eleição e depois de quase um mês de campanha, o quadro eleitoral da disputa em João Pessoa pouco foi alterado, ou seja, nem Luciano Cartaxo iniciou uma trajetória de queda, nem Cida Ramos cresce de maneira mais acelerada, principalmente tirando votos do seu principal adversário, que é o que precisa acontecer para viabilizar o segundo turno.

Só um fato político de grande relevância que tenha potencial pode alterar o rumo da atual disputa na capital paraibana, que já se consolida como tendência: a vitória de Luciano Cartaxo no primeiro turno.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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