João Pessoa, 20 de novembro de 2016 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
A pedagoga Patrícia Ferreira Perote, 45, perdeu o emprego de professora em agosto deste ano. Com a crise, não tem conseguido outra colocação em sua área e resolveu buscar, em paralelo, uma vaga de babá.
Enquanto procura um trabalho fixo, tem feito bico como faxineira.
“Preciso desse dinheiro da faxina, até para continuar buscando um emprego.”
Com a crise, milhares de brasileiros com diploma universitário, como Patrícia, têm sido empurrados para ocupações de menor qualificação.
Faxineiro foi, por exemplo, a sexta profissão que mais gerou vagas com carteira assinada para profissionais com ensino superior completo em 2015 em relação a 2014.
Entre as 30 ocupações que mais criaram emprego nessa faixa de escolaridade no ano passado, pelo menos 11 são funções que não exigem alta qualificação, como assistente administrativo, auxiliar de escritório, vendedor no comércio e recepcionista.
Os dados foram levantados pela Folha na Rais (Relação Anual de Informações Sociais), que traz informações sobre mais de 2.500 ocupações no mercado formal e foi divulgada recentemente.
Segundo especialistas, a recessão leva as empresas a trocar profissionais menos escolarizados por outros mais qualificados, que se sujeitam a ganhar menos e a exercer posições menos sofisticadas.
“Nas crises, os empregadores tentam pagar o menos possível e passam a exigir mais qualificação”, afirma o economista Anselmo Luís dos Santos, da Unicamp.
O movimento de contratações e demissões de assistentes administrativos, responsáveis por funções como atualizar planilhas e cuidar de boletos bancários, ilustra isso.
O saldo de assistentes administrativos com ensino médio completo aumentou em todos os anos entre 2007 e 2014. Esse movimento foi interrompido em 2015, com a eliminação de 12.218 vagas.
Já entre profissionais com nível universitário foram criadas 44.801 posições nessa ocupação no ano passado.
CHEFES DE FAMÍLIA
Para Naercio Menezes Filho, pesquisador do Insper, a recessão atual tem um aspecto que pode estar impulsionando a precarização.
“O desemprego tem atingido mais chefes de famílias, que por serem a principal renda do domicílio podem estar se sujeitando a desempenhar ocupações mais precárias.”
A economista Fernanda Estevan, da USP, ressalta que, embora a situação não seja positiva, é precipitado concluir que esses profissionais desperdiçaram tempo cursando o ensino superior.
“Na recessão, talvez eles estivessem desempregados sem essa formação”, afirma.
No ano passado, foi eliminado 1,5 milhão de vagas formais, principalmente profissionais com ensino fundamental e médio. Entre profissionais com ensino superior completo, houve aumento de 29.930 vagas.
INCOMPLETO
Entre as profissões que mais geraram vagas no ano passado aparecem também ocupações de nível superior. Enfermeiros, administradores e farmacêuticos tiveram mais oportunidades no mercado de trabalho em 2015.
Ocupações também típicas do ensino superior –como engenheiro civil e arquiteto– registraram queda no saldo de ocupados no ano passado, quando o país já estava em recessão –iniciada em 2014.
Para os que têm ensino superior incompleto, a situação é mais complicada. Nessa faixa de escolaridade, foram eliminadas 16,8 mil vagas.
Após quatro semestres na faculdade de direito, Regina Nakamura, 47, teve de desistir do sonho de ter um diploma ao ver seu negócio, um caraoquê, ir à falência. Sem conseguir um trabalho formal, se inscreveu no site de trabalhos domésticos Parafuzo, em que trabalha como passadeira, em limpeza e organização.
“O mercado de trabalho tem preconceito com pessoas da minha idade. Eu tinha 45 anos, mandava currículos e nada”, disse ela, que hoje diz que desistiu do direito.
“Penso em terminar o curso superior um dia, mas seria algo para eu ficar satisfeita comigo mesma”, diz. “O que mais cresce é a demanda por mão de obra, algo mais prático, penso em investir nisso.”
Folha
TURISMO - 19/12/2024