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Prefeito mais jovem é de família que domina cidade há 20 anos

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publicado em 23/12/2016 ás 16h20
atualizado em 24/12/2016 ás 08h41

A série de reportagens apresentando fenômenos eleitorais nas eleições municipais deste ano na região Nordeste realizada pelo blog do Magno Martins, de Pernambuco, em parceria com o Portal MaisPB, mostra, nesta sexta-feira (23), Leonardo Caldas, de apenas 21 anos, 0  prefeito eleito mais jovem do País, em Milagres do Maranhão, que tem apenas 20 anos de emancipação política.

Desde a sua criação, Milagres é dominado pelo feudo político da família de Leonardo Caldas. Com nível médio incompleto, sotaque arrastado e apaixonado por vaquejadas, Léo, como é mais conhecido, é sobrinho do prefeito Augusto Caldas, que é irmão do também ex-prefeito Miguel Caldas. Além de curral eleitoral dos Caldas, a cidade tem a marca do nepotismo. A mãe de Léo, Arlene Caldas, ocupa a Secretaria de Saúde há 12 anos e deve ser mantida no cargo porque, como diz o próprio filho, “é poderosa”.

MILAGRES DO MARANHÃO (MA) – Localizado a 360 km de São Luis, com IDH de 0,563, um dos mais baixos pela classificação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, o PNUD, o município de Milagres do Maranhão, que saiu do anonimato na mídia nacional por ter elegido o prefeito mais jovem do País, tem apenas 20 anos de emancipado e é dominado desde a sua criação pelo feudo político que emplacou nas urnas o jovem Leonardo Caldas, de apenas 21 anos.

Com nível médio incompleto, sotaque arrastado e apaixonado por vaquejadas, Léo, como é mais conhecido, é sobrinho do prefeito Augusto Caldas, que é irmão do também ex-prefeito Miguel Caldas. Além de curral eleitoral dos Caldas, a cidade tem a marca do nepotismo. A mãe de Léo, Arlene Caldas, ocupa a Secretaria de Saúde há 12 anos e deve ser mantida no cargo porque, como diz o próprio filho, “é poderosa”.

Atual primeira-dama do município, a secretária de Ação Social, Ana Rosa, é cunhada de Arlene e provavelmente será mantida na função. Outra pasta importante da gestão municipal, a Educação, é dirigida por outra tia do prefeito eleito: Aline Caldas. ‘Fui eleito para dar continuidade ao trabalho da família”, admite Léo, diplomado no último dia 14 ao lado da namorada, estudante em Parnaíba, no Piauí.

Fundado em 1º de novembro de 1996, o município não sabe o que é alternância de poder há exatos 20 anos, sua idade. Filiada ao PCdoB, Claudete Rodrigues, que polarizou a disputa com Leonardo, tenta tomar o poder dos Caldas há três eleições seguidas. Nesta última eleição, perdeu por apenas 229 votos, sinal de que a população deu sinais de cansaço com o poder nas mãos de uma mesma família. “Eu queria ver minha terra um dia mudar de comando, votei em Claudete apostando nisso”, diz o comerciante Francisco Raiol, dono de um pequeno comércio de secos e molhados.

Não é somente ele que anda de nariz empinado com a situação do município. Residente na zona rural e beneficiária do programa Bolsa-Família, com rendimentos mensais de apenas R$ 146, Maria Sebastiana Barros afirma que a cidade é muito pobre, não tem emprego para os jovens e a família detentora do poder exibe um belo contraste com a pobreza do município, andando em carros luxuosos. “Só quem prospera aqui são eles. Os pobres aqui andam a pé ou de bicicleta”, desabafa.

Claudete, que não estava na cidade ontem, é professora, tem 43 anos, ensino superior completo e montou uma coligação que tem tudo a ver com o desejo de mudança acalentado pela população: União pela libertação, formada pelo PC do B, PDT, PSL, PT, PP, PT do B e PPL. Obteve 2.218 votos, 47,56% dos votos válidos, enquanto o prefeito eleito, com 52,44% dos votos válidos, alcançou a marca de 2.446 votos. De tão pequeno, o município só tem 20 sessões eleitorais, das quais 32 eleitores votaram em branco e 213 anularam os seus votos.

Se não comemorou a vitória, Claudete teve a alegria de sair da sua coligação o vereador mais votado do município, Bernardo Pupa (PCdoB), com 332 votos. Diante de resultado tão apertado, o prefeito eleito diz que a responsabilidade aumenta, porque, segundo ele, a oposição será vigilante. Leonardo ainda reclama dos ataques que sofreu na campanha. “Minha adversária me chamava de vaqueiro despreparado e pedia para a população não votar no sobrinho cheirando a leite”, recorda o prefeito eleito.

O novo prefeito de Milagres do Maranhão nasceu no dia 5 de julho de 1995. Completou 21 anos faltando dois meses para encerrar o prazo das convenções partidárias. Pela lei, a idade mínima para disputar a Prefeitura é 21 anos. Apenas 25 dos 5.506 prefeitos eleitos são jovens, com até 25 anos de idade, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A maioria tem entre 46 e 65 anos – 3.063 eleitos.

Há ainda 2.057 que têm entre 26 e 45 anos. O número de novos prefeitos que possuem mais de 65 anos é de 361. Leonardo contou que de início pretendia ser candidato a vereador, mas não demorou muito a mudar de ideia quando uma pesquisa apontou a preferência da população pelo nome dele como candidato à Prefeitura. Na campanha, adotou o slogan “Vote no Menino, que ele é 10”, numa referência ao número do seu partido e ao mesmo tempo sugerindo ser preparado para o cargo.

Sobre os desafios que têm pela frente, o republicano disse que pretende investir em projetos de geração de emprego e renda para a juventude e na melhoria da qualidade de vida das pessoas que moram na zona rural do município. “Para dizer a verdade, eu sempre tive vontade de ser candidato a vereador. Não pensava em ser prefeito assim tão rápido. Desde pequeno acompanho meu tio José Augusto, que é o atual prefeito, e sempre gostei do trabalho dele para ajudar as pessoas”, afirmou.

Leonardo não esconde o poder da família. “Tem também a minha mãe Arlene que sempre esteve ao lado do povo, ajudando. Ela é secretária municipal de saúde e sempre me motivou a entrar para a política”, acrescenta.  O fato de ser jovem e nunca ter assumido cargo público não o assusta. “A responsabilidade é mesmo grande, mas a gente tem que ter coragem para enfrentar. Sei  que não vai ser fácil, mas tenho uma força de vontade enorme em ajudar as pessoas de minha cidade a ter uma vida melhor”, disse.

Juventude nem sempre é renovação política

O próprio prefeito eleito não esconde que o atual prefeito, o seu tio Augusto Caldas, terá papel importante e destacado em sua gestão. “Ele é a nossa principal liderança e não posso dispensar a sua experiência. Tenho que aprender muito com ele”, afirmou. Leonardo contou que nunca esperava ter sido escolhido candidato a prefeito e tomou um susto quando foi informado pelo chefe que seria ele.

“Tio Augusto me chamou na Prefeitura e disse que o candidato seria eu porque a pesquisa indicava”, contou. Leonardo não é o primeiro nem será o último. Nas eleições de 2012, o prefeito mais jovem saiu de Chaval, no Ceará. Paulo Sérgio de Almeida Pacheco, também com 21 anos, é filho do ex-prefeito, condenado a cinco anos de prisão sob acusação de desvio de verbas públicas.

No caso de Milagres, o prefeito e tio do eleito não foi à reeleição porque já está no segundo mandato, mas também é acusado de irregularidades, entre elas licitações viciadas. Para recuperar estradas, fez um contrato de R$ 1.471.911,17 com a empresa Cristal Empreendimentos Ltda, que a oposição denunciou na campanha como um grande escândalo. ‘“Fingindo obedecer a normas de licitação e as tipologias dos projetos padrão, o prefeito agraciou a empresa Firma Cristal com um montante exorbitante”, diz um vereador da oposição.

O resultado das eleições municipais trouxe uma expressiva mudança no mapa político do Maranhão. O governador Flavio Dino (PCdoB), que derrotou a poderosa família Sarney, avalia que a mudança confirma o fim da hegemonia da família e do grupo político do ex-presidente no Estado.  Para o governador, o grupo de partidos que faz oposição ao PMDB maranhense conquistou a prefeitura de 150 dos 217 municípios do Estado no primeiro turno.

Nas eleições de 2012, esse número foi 17. Somente o PCdoB, saltou de quatro prefeituras para 43. “De um modo geral, quando olhamos os partidos no nosso campo, nós tivemos vitórias importantes não só no sentido quantitativo, mas também quantitativo. Nós ganhamos nas maiores cidades, vamos para o segundo turno na capital”, afirmou o governador.

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