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entrevista

‘Meu pai estava aflito com a reação do país’, diz filho de Teori Zavascki

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publicado em 29/01/2017 ás 10h26

Falando em nome da família de Teori Zavascki, morto em desastre aéreo no último dia 19, Francisco Zavascki segue vigilante quanto à investigação do acidente. E fala, em entrevista ao GLOBO, sobre o legado deixado pelo pai.

Como a família tem reagido à morte de Teori?

Cada um está de um jeito diferente. Alguns estão piores, acho que eu sou o que está um pouco melhor. Mas estão todos ainda em estado de choque, realmente vivendo um pouco na negação. Muito cansados, muito tristes, mas sem acreditar, ainda céticos com o que aconteceu.

Vocês têm algum receio com relação à investigação?

Não sei dizer. Claro que a gente fica com medo de, daqui a pouco, se perder o momento de se fazer eventualmente determinadas perícias ou qualquer coisa… ou de alguma influência política. E aqui não estou fazendo acusação nenhuma. Mas é um caso tão extraordinário, tão importante, num momento tão difícil, que para a própria história do país a gente precisa que tudo fique muito claro.

Como você recebeu as informações preliminares divulgadas sobre as causas da queda do avião?

Confesso que, com relação à Aeronáutica, estou bem por fora. Vamos ser cautelosos. Esperar a conclusão das investigações para eventualmente fazer críticas, para concordar, para questionar por mais investigação.

Como cidadão e como filho de Teori, o que você espera do próximo relator da Lava-Jato?

Acho que ele deve assumir a postura do meu pai, de só falar nos autos. Ser juiz, ser magistrado. Condenar quando tiver que condenar e absolver quando tiver que absolver, e sempre falando nos autos. A postura que o pai tinha, de ser calmo, de ser ponderado, de estar tudo pegando fogo e ter a tranquilidade de dizer “é este o caminho”. Acho que, se a pessoa que assumir conseguir ter esta postura, será ótimo.

O que você acha que o próximo relator da Lava -Jato não deve fazer?

Não deve se deixar levar pelas pressões sociais e de qualquer tipo. Deve seguir a lei, custe o que custar… Agrade a quem tiver que agradar e desagrade a quem tiver que desagradar.

Você e seu pai conversaram sobre as delações da Odebrecht. Ele estava preocupado com o trabalho?

Ele falava muito pouco. Não abria nada. Ele só comentou, na véspera do falecimento dele, que estava muito preocupado em como o país iria reagir daqui para frente. Como seriam as coisas, em função do conteúdo das delações. Ele estava realmente aflito porque pelo jeito a coisa era muito séria, e é muito séria, e por envolver o poder brasileiro e pessoas de destaque no Brasil.

No ano passado você postou uma mensagem em uma rede social falando da existência de movimentos para frear a Lava Jato e disse que se algo ocorresse com alguém da sua família, as pessoas já saberiam onde procurar. Você temia pela segurança de vocês?

Hoje eu fico pensando: “Será que não foi uma premonição?” Espero que não. Mas todo mundo temia. E teme de certa forma ainda. Mas temia muito porque se estava e se está lidando talvez com a maior organização do crime no país. Talvez o maior crime organizado do mundo. Então, não tem nada que não me faça crer que realmente não possa ter gente que pudesse tomar uma atitude absurda dessas.

Que tipo de ameaças concretas vocês receberam?

Só ameaças via telefone, Facebook, e-mail, mas nada pessoal e concreto.

Como era seu pai fora do STF, quando estava entre família e amigos?

Ele era muito brincalhão e debochado. Fazia brincadeira com todos, era descontraído. E era um cara muito amável, carinhoso. Não era aquele “trator” que ele parecia ser. Ia para a piscina e jogava os netos para cima. Aquela coisa bem de avô coruja.

Qual legado Teori deixa para o país?

O legado dele é que, não importa o custo pessoal que tu vais ter, tu tens que fazer o que é certo fazer. Ele abriu mão de muita coisa e sofreu muito para fazer o que era certo e não se render a qualquer outra facilidade. Acho que esta é uma lição dele.

O Globo