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Denúncia de desvios na Conmebol implica Del Nero e Teixeira

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publicado em 08/06/2017 ás 14h55

A denúncia da Conmebol à Justiça do Paraguai de que houve desvios das contas da entidade implica o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e os ex-presidentes Ricardo Teixeira e José Maria Marin. Isso porque a acusação aponta conivência dos membros do comitê executivo da entidade durante o período de 16 anos de supostas irregularidades, de 2000 a 2015. Eles também devem, portanto, responder criminalmente na Justiça do Paraguai.

A denúncia da Conmebol ao Ministério Público Paraguaio feita em 6 de junho aponta supostos desvios de US$ 129,9 milhões (R$ 425 milhões) das contas da entidade. O documento de acusação foi obtido primeiro pela ”Globo.com”, e depois pelo UOL. O principal beneficiário foi o ex-presidente da Conmebol Nicolas Leóz, de acordo com o documento. O esquema se manteve com o sucessor Eugenio Figueredo. Há acusações de menor porte contra o último presidente Juan Angel Napout.

Há transferências diretas feitas da conta da Conmebol para as de Nicolas Leóz no valor de US$ 28 milhões. Outras operações para contas desconhecidas em paraísos fiscais supostamente ligadas ao ex-dirigente no total de US$ 33,2 milhões. O restante foi de recursos pagos a empresas suspeitas no caso do ”Fifa Gate” nos EUA, e outras firmas para as quais não se comprovou a razão do pagamento. Todos os dados foram obtidos em auditoria feita nas contas da Conmebol pela Ernest & Young.

Por conta desses desvios, a denúncia aponta que os dirigentes da Conmebol supostamente cometeram os crimes de lesão de confiança, apropriação, lavagem de dinheiro, produção de documentos falsos e associação criminal. Caberá ao Ministério Público do Paraguai definir os responsáveis.

Pois bem, o Comitê Executivo e o Congresso da Conmebol eram os órgãos responsáveis por controlar a gestão da entidade. Portanto, seus membros no período de 2000 a 2015 podem ser igualmente responsabilizados pelos crimes, como conta o advogado da confederação sul-americana.

”Absolutamente (podem ser acusados). Todos os que figuraram no Comitê Executivo e Congresso participavam de informes a cada dois anos com os relatórios financeiros da Conmebol. Por isso, todas essas pessoas têm participação na gestão”, contou o advogado da Conmebol, Oswaldo Granada Sallaberry, ao blog. Ele assina a denúncia. ”Eles participavam do corpo colegiado. Não podiam ignorar isso (os desvios)”

O advogado ressaltou que o próprio estatuto da Conmebol estabelecia que os organismos de poder eram o Comitê Executivo e o Congresso, e que o presidente precisava de autorização para seus atos.

A denúncia feita ao Ministério Público do Paraguai deixa clara a implicação dos dirigentes brasileiros que estiveram na Conmebol:

”Sobra dizer que os órgãos de controle para Conmebol eram pessoas que nunca alertaram para as graves irregularidades identificadas. Os elementos de evidência disponíveis fazem supor seriamente que as principais autoridades da Conmebol atuaram durante anos em conluio completo para implementação e encobrimento das infracções agora reportáveis”, afirma a denúncia. Em seguida, cita os como órgãos o Congress e o Comité Executivo.

Ricardo Teixeira foi membro do Comitê Executivo da Conmebol durante 12 anos do período citado na denúncia, de 2000 a 2012 quando renunciou a todos os cargos no futebol. Era um dos maiores aliados de Leóz. Ele já responde a processos por acusações de suborno em três outros países, EUA, Suíça e Espanha.

Del Nero se tornou membro do Comitê Executivo da Fifa em sua substituição em 2012, e logo em seguida assumiu o mesmo cargo na Conmebol. Ficou no cargo até renunciar ao posto da Fifa, juntamente com o da Conmebol, no final de 2015. Ou seja, esteve no poder da entidade enquanto ocorriam os supostos desvios de milhões dos cofres. O mesmo ocorreu com José Maria Marin como presidente da CBF.

Os três são denunciados na Justiça dos EUA por desvios de dinheiro da Conmebol nos contratos da Copa América, em supostos pagamentos de propina da empresa Datisa par obter direitos da competição. São acusados juntamente com todos os outros membros do Comitê Executivo.

A intenção dos advogados da Conmebol é que todos os ex-membros do comitê respondam ao processo e sejam intimados pela Justiça Paraguai.

”O Brasil tem bastante cooperação com a Justiça Paraguai por conta da nossa fronteira em comum em que temos de discutir crimes na fronteira”, explicou o advogado Oswaldo Granada, que disse desconhecer quais brasileiros estariam envolvidos.

Vale ressaltar que o atual presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, também integrou o comitê a partir de 2014.

A expectativa dele é que em 10 dias o Ministério Público do Paraguai já decida um procurador para cuidar do caso da Conmebol, dando sequência à investigação.

Procurada, a CBF informou que não se pronunciaria sobre o envolvimento de Del Nero. O blog tentou sem sucesso contato com a defesa de Ricardo Teixeira. Advogados de Marin não quiseram se pronunciar sobre o assunto por desconhecer o processo.

UOL