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Primeira transexual da Superliga sonha com seleção de vôlei

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publicado em 20/12/2017 ás 13h23

Tiffany Pereira de Abreu já fez história no esporte brasileiro. Não por algum título no vôlei, mas por uma conquista na vida. Ela foi a primeira transexual a entrar em quadra por uma partida oficial da Superliga, principal campeonato de vôlei do Brasil. O resultado da partida – derrota do seu Vôlei Bauru para o São Caetano – foi o que teve menos importância. A maior conquista foi poder realizar um sonho após três anos de transição do sexo masculino para o feminino.

Nascida de uma família pobre de Goiás, Tiffany sequer conheceu o pai e teve que ajudar a família desde criança. Consciente de que não poderia contar com apoio financeiro em casa, foi pelo vôlei que vislumbrou a chance de realizar o maior sonho da vida: o de se tornar uma mulher por completo. Foi então que Rodrigo Pereira de Abreu saiu de casa em busca de dinheiro para fazer a transição de genêro.

Antes de jogar pela Superliga feminina, Tiffany entrou em quadra ainda como Rodrigo pela Superliga A e B no Brasil e em outros campeonatos masculinos nas ligas da Indonésia, Portugal, Espanha, França, Holanda e Bélgica. Quando defendia um clube da segunda divisão belga, resolveu concluir a transição de gênero, deixando o Rodrigo no passado.

– Eu já sabia o que queria e só estava esperando a hora certa, porque eu precisava também ter uma renda. Então eu precisei primeiro juntar uma boa grana para poder começar uma transição. Foi quando eu decidi parar de jogar o vôlei masculino para começar uma transição no final de 2012, ainda na Europa – conta.

Ao conseguir o dinheiro para trocar de sexo – o custo total gira em torno de R$ 30 mil –, Tifanny abandonou a carreira no vôlei por não saber que poderia atuar por uma equipe feminina. A intenção era retornar ao Brasil após a transição e buscar uma nova carreira profissional.

– A transição foi fora do país porque eu achei que era mais fácil, até porque você tem acompanhamento médico grátis. Aqui é mais complicado de encontrar, mas eu não tinha pretensão de voltar a jogar vôlei novamente. Estava pensando em arrumar um emprego qualquer, depois que já não tivesse mais a minha renda. Mas aí recebi a proposta de jogar no feminino depois da minha transição completa, totalmente hormonizada e com os documentos para poder jogar no feminino. Não acreditava muito, mas como meu empresário entendia das regras do COI, tanto da confederação internacional, eu falei ‘ok’. Já existiam outras jogadoras trans, só que elas não atuam em um nível tão alto como a Superliga, atuavam em ligas B. Se eu poderia continuar com o meu trabalho, porque ficar parada? Continuei fazendo minha transição normal e, quando já estava no ponto, decidi voltar ao vôlei.

  • Para poder ser liberada para atuar no vôlei feminino, Tiffany teve que comprovar que o nível de testosterona – hormônio masculino no corpo humano -, estava abaixo dos 10 nanogramas (ng), concentração média entre as mulheres. A de Tiffany é de 0,2 ng.

No início de 2017 Tiffany recebeu a permissão da Federação Internacional de Voleibol (FIVB) para competir em ligas femininas. Foi quando defendeu o Golem Palmi, time da segunda divisão da Itália. Após esse período, voltou ao Brasil e usou a estrutura do Vôlei Bauru para aprimorar a parte física de olho em um retorno a Europa. A ponteira recebeu uma proposta e aceitou defender o time do interior paulista. A liberação para atuar na Superliga veio dois dias antes da estreia oficial, no dia 10 de dezembro, após exames da comissão médica da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV).

Segundo as regras do Comitê Olímpico Internacional (COI), um atleta não precisa necessariamente passar por uma cirurgia de mudança de sexo. No caso das mulheres, o controle do nível de testosterona é essencial para obter a liberação. Antes de ter conhecimento que poderia voltar a jogar vôlei, Tiffany admite que tinha preconceito sobre a presença de transexuais no esporte.

– Como toda pessoa leiga que fala que acha que não é certo jogar, eu também achava que não poderia porque eu não sabia realmente que a força mudava. Depois de uma transição que fui ficar sabendo realmente que isso é diferente. Hoje em dia quando as pessoas falam, eu até entendo elas porque já pensei assim um dia, por não saber o que o hormônio faz no corpo da pessoa.

Tiffany se considera uma jogadora de força. Na estreia na Superliga, na derrota para o São Caetano, a ponteira anotou 11 pontos e mostrou o poder de ataque e a eficiência na entrada da rede. Com 25 pontos, comandou a vitória do Bauru sobre Pinheiros na noite da última terça-feira. A queda nos níveis de testosterona, porém, foi sentida pela jogadora, que admite ter mudado de característica ao longo do processo de transição.

Globoesporte