João Pessoa, 23 de fevereiro de 2018 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não tinha música melhor para Isadora Williams se apresentar, nesta sexta(23), na final da patinação artística individual. Nyah, um dos temas de Missão Impossível 2, foi a escolhida pela brasileira para o programa longo. Até quarta-feira(21), quando a menina de 22 anos fez o que poucos esperavam. Ter o Brasil em uma final olímpica era quase improvável. Nervosa, sofreu uma queda durante a apresentação e, ao fim, não repetiu o sorriso do outro dia.
Os olhos vermelhos marejados tomaram seu rosto. A nota 88,44 (longo) e o total de 144,18 pontos não foram suficientes para colocá-la perto do pódio. Pelo contrário, ficou na 24ª e última posição.
– Foi muito triste. Não tenho palavras para o que aconteceu. Fui a última patinadora do meu grupo. Depois aquecimento eu tive 30 minutos, sentei, fiquei muito nervosa nesse tempo. Depois do programa curto limpo, isso é muito difícil. É muito difícil, porque todo mundo ficou muito feliz depois do programa curto e tem muita pressão no Brasil. Não foi perfeito para um longo. Eu não tenho palavras. Não sei. Não era o programa que eu queria fazer aqui – disse Isadora, ainda tremendo, logo após se apresentar.
“Foi muito triste. No primeiro salto eu falhei e depois não consegui me recuperar”
Isadora patinou diante de uma arena lotada por quase cinco minutos. Começou bem, mas caiu e se abalou. Teve mais alguns deslizes e terminou com uma expressão fechada, lembrando Sochi 2014, quando, aos 18 anos, falhou no programa curto e não se classificou para a final. A brasileira foi a 12ª a se apresentar e acabou na lanterna. Brigar por medalha era impossível, todos já sabiam, mas Isadora colocou a América do Sul e Brasil no mapa da patinação artística. Ela foi a primeira sul-americana a chegar a uma final olímpica.
– Eu amo o Brasil, amo as pessoas torcendo por mim. Mas no primeiro salto eu falhei e depois eu não consegui me recuperar. Entrei nervosa. Tinham mais pessoas assistindo hoje.
Isadora é filha de mãe brasileira e pai americano. Nasceu nos EUA e desde Sochi 2014 se esforça para falar fluentemente o português. Por vezes as palavras escapam, mas ela não esqueceu as suas origens. No aquecimento do programa curto, ouviu “Vai Malandra”, sucesso de Anitta. Desde os cinco anos, quando começou a patinar em Marietta, na Geórgia, sonhava em disputar uma Olimpíada.
Em 2010, passou a representar o Brasil em torneios internacionais. Desde o ano passado, foi morar longe dos pais para estudar Nutrição e administração com ênfase no esporte, na Montclair University. Lá, divide os estudos com as 21 horas semanais de treino. Sem os recursos de estrelas como Medvedeva e Zagitova, fez uma vaquinha virtual para ajudar a pagar seus técnicos e assim aprender novos saltos. Também dá aulas de patinação para cobrir custos de treino.
Antes de PyeongChang, Isadora não deixou claro seu futuro quanto aos Jogos de Pequim 2022. Vai seguir patinando, claro, mas na China, daqui quatro anos, estará com 26. Nesta idade, muitos patinadores já se aposentaram dos Jogos Olímpicos, mas outros tantos postergaram o fim da carreira. Para seguir, ela depende da manutenção do apoio do Comitê Olímpico do Brasil e da Confederação Brasileira de Desportos no Gelo.
Sem contrariar a lógica, a disputa pelo título ficou reservada para o fim da prova. Com uma apresentação que recebeu 239.57 pontos, Alina Zagitova, de apenas 15 anos, levou o ouro. Ela compete pela equipe Atletas Olímpicos da Rússia, uma vez que o seu país está suspenso pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
A prata ficou com outra atleta olímpica da Rússia. Com 238.26 pontos, Evgenia Medvedeva, a última a se apresentar, terminou atrás apenas da compatriota. Quem fechou o pódio foi a canadense Kaetlyn Osmond. A pontuação dela foi 231.02.
GE
OPINIÃO - 22/11/2024