João Pessoa, 06 de abril de 2018 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Ao longo da carreira, Renato Gaúcho nunca escondeu que gostava de ser visto como um sedutor. Pelo contrário. Esbanjava orgulho ao falar — seja em entrevistas ou nos bastidores — das conquistas amorosas. Um alvo, entretanto, sempre lhe escapou. Ao menos, até hoje. O interesse recente do Flamengo no técnico representa a rachadura numa rocha que mostrou-se impenetrável até há pouco tempo. Inclusive, na gestão Bandeira.
Tratado como salvador da pátria pelo rubro-negro em ano eleitoral, ele viveu, recentemente, dias de treinador desempregado que teve a porta da Gávea batida em sua cara.
Só da atual administração, foram duas recusas. Entre 2015 e 2016, antes de voltar ao futebol pelo Grêmio, o técnico, então há quase dois anos sem trabalhar, foi rejeitado ao ter seu nome ventilado na Gávea. A última recusa ocorreu quando o Flamengo perdeu Muricy Ramalho por questões de saúde e decidiu promover Zé Ricardo. Renato ouviu o “não” da diretoria e chegou a ser tratado como chacota por alguns dirigentes. Meses depois, iniciou o trabalho no clube gaúcho, onde conquistou três títulos: a Recopa Sul-Americana, Libertadores, e Copa do Brasil. Depois de demitir Zé Ricardo, e antes de trazer Rueda, em 2017, o Flamengo tentou o treinador, já em alta no Grêmio, de onde não podia sair.
Renato sempre deixou bem claro que treinar o Flamengo — e, mais recentemente, a seleção — seriam suas maiores conquistas. As “cantadas” do treinador não cessaram nem mesmo quando ele tinha compromisso em vigor. Como no ano passado, durante sua participação no Jogo das Estrelas, de Zico:
“Meu momento como treinador no Flamengo um dia vai chegar”, disse Renato, então recém-campeão da Libertadores pelo Grêmio.
Do outro lado, o desdém sempre prevaleceu. O perfil falastrão, vaidoso e frequentador assíduo das praias cariocas (não importando o estado em que trabalhe) ajudou a estabelecer a imagem de um técnico pouco profissional entre os membros que se sucederam na cúpula rubro-negra nos últimos anos. Um dos poucos a cogitar sua contratação, Delair Dumbrosck revela que não faltou resistência. Ele conta que, em 2009, quando ocupou de forma interina a presidência, pensou no ex-jogador para a sucessão de Cuca, demitido durante o Brasileiro.
“Ele sempre deixou uma imagem de indisciplinado, que não cumpria horários. E quando falei seu nome, disseram que não era técnico para o Flamengo. Acabou que o Andrade se mostrou muito competente e foi efetivado. Mas, se isso não ocorresse, encararia todas as resistências para levar o Renato”.
O depoimento de um ex-vice de futebol rubro-negro resume bem a opinião que, por anos, prevaleceu na Gávea. O ex-dirigente não contesta os bons resultados de Renato como técnico. Mas diz não acreditar em sua paixão pelo Flamengo.
“Pensa só nele. Está mais preocupado com a visibilidade do que com as instituições”, opinou o dirigente, que preferiu não ser identificado.
Opiniões à parte, a resistência já não é a mesma. Tanto que a diretoria cedeu aos seus encantos e prepara uma proposta para tirá-lo do Grêmio. Se Renato fará disso um leilão, só o tempo dirá. Depois de dizer que poderia mudar de ideia sobre ficar no clube gaúcho no domingo, após a final do Estadual, o técnico viajou para São Paulo, onde teve compromissos particulares e encontrou amigos ontem. No encontro, o futuro foi tema. Procurado, o agente Gerson Oldemburg disse que não fala no assunto, após negar o interesse do Flamengo.
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