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Nova York

‘Trem de cocô’ estaciona e enfurece moradores

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publicado em 18/04/2018 ás 17h36
Vagões de trem com dejetos trazidos de Nova York ao Alabama são vistos parado na cidade de Parrish, no Alabama, em foto de 12 de abril (Foto: AP Photo/Jay Reeves)

Um fétido trem de dejetos humanos da cidade de Nova York está encalhado em uma pequena cidade do Alabama, espalhando um fedor que se assemelha a um vaso sanitário gigantesco – e o “trem de cocô” é apenas o mais recente exemplo do sul dos EUA sendo usado como um lixão para outros estados do país.

Em Parrish, no Alabama, uma cidade de apenas 982 habitantes, os vagões do trem que transportam o material estão parados perto de um campo de beisebol há mais de dois meses, segundo a prefeita Heather Hall. O cheiro é insuportável, especialmente no final da tarde, quando o ar se torna mais quente, disse ela.

“Oh, meu Deus, é simplesmente um pesadelo aqui”, disse. “Cheira a cadáveres em decomposição, ou carcaças. Tem cheiro de morte”.

Todo tipo de dejeto tem sido despejado em Georgia, Alabama e outros estados do sul nos últimos anos, incluindo cinzas tóxicas de carvão de usinas de todo o país. Na Carolina do Sul, um plano para armazenar dejetos nucleares em uma área rural gerou reclamações de que o estado estava sendo transformado em um lixão nuclear.

Em Parrish, os moradores estão cogitando remarcar os jogos das crianças, ou jogar em campos de outras comunidades para escapar do mau cheiro.

Sherleen Pike, que mora a menos de um quilômetro dos trilhos de trem, disse que às vezes esfrega óleo de hortelã embaixo do nariz porque o cheiro é ruim demais.

“A cidade de Nova York gostaria se nós mandássemos todo nosso cocô para eles para sempre?”, questionou. “Eles não querem jogar isso nos rios deles, mas acho que cada estado deveria cuidar de seus próprios dejetos”.

As terras baratas e as permissivas leis de zoneamento do Alabama e uma proibição federal ao despejo de excremento dos nova-iorquinos no oceano fez com que o trem fosse acionado, dizem especialistas.

Nelson Brooke, do grupo ambientalista Black Warrior Riverkeeper, descreveu o Alabama como uma “espécie de lugar permissivo e de porta aberta” para operadores de lixões.

“É fácil para eles entrar em uma comunidade rural ou pobre, se estabelecer e começar a ganhar muito dinheiro”, disse.

O “trem de cocô” tem como destino o lixão Big Sky, a cerca de 30 kms a leste de Parrish. O local vem aceitando dejetos de esgoto de Nova York desde o início de 2017. Inicialmente, o material era transferido de trens para caminhões nas proximidades, em West Jefferson, mas a localidade obteve uma liminar para manter os dejetos fora de sua cidade.

O material “tem cheio de animais em decomposição e dejetos humanos”, disse o advogado de West Jefferson em uma ação judicial contra a Big Sky Environmental LLC. Ele também fez com que a comunidade ficasse “infestada de moscas”, afirma a reclamação.

Depois que West Jefferson foi à Justiça, o trem parou no final de janeiro em Parrish, que não possui uma regulação de zonas para bloquear vagões de trem. Ele está ali desde então.

“Nós provavelmente vamos criar algumas leis simples de zoneamento para a cidade de Parrish, para que possamos nos certificar de que algo assim não aconteça novamente”, disse a prefeita. Hall disse estar otimista de que o material deva ser transportado para o lixão em breve.

Nova York parou de enviá-lo ao Alabama por enquanto, disse Eric Timbers, um porta-voz da cidade. Seus dejetos, recuperados do processo de tratamento de esgoto e frequentemente chamado de “biosólido”, tem sido retirado do estado em parte porque o governo federal baniu no final dos anos 1980 sua disposição no Oceano Atlântico.

Em Parrish, a prefeita espera que o material nos vagões seja removido antes que o clima comece a esquentar. “Estamos nos aproximando do verão, e o verão no sul não é indulgente quando se trata de coisas desse tipo”, afirmou.

G1