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‘Peguei HIV na minha primeira vez’, conta inglês

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publicado em 04/12/2018 ás 09h22

A primeira vez que Nathaniel Hall fez sexo, ele contraiu o vírus pegou HIV. Ele tinha 16 anos e havia acabado de se assumir gay. Por medo e vergonha, ele levou 14 anos para compartilhar o diagnóstico com a família.

Ele “saiu do armário” pela segunda vez na vida no ano passado, quando escreveu uma peça sobre sua experiência. Nathaniel, hoje um teatrólogo de 32 anos, vive em Manchester, na Inglaterra. Ele espera que seu monólogo provoque um debate sobre as representações do HIV na cultura popular.

No relato abaixo, Nathaniel conta como lidou com o diagnóstico enquanto ainda era um adolescente.

O ‘romance de verão’ com um homem mais velho

“Soube que era gay quando tinha cerca de 13 ou 14 anos, mas 2003 foi um período diferente. Contar na escola não era uma opção. Tudo era segredo… descobrir quem mais era gay.

E, então, surge este cara – eu tinha 16, ele era mais velho, em seus 20 e poucos (no Reino Unido, a idade de consentimento – em que a pessoa é considerada legalmente apta a consentir atos sexuais – é de 16 anos).

De repente, esse homem mais velho me deu atenção e quase me validou – era muito envolvente. Então, começamos a nos encontrar.

Essa relação não durou muito – só dois meses, na verdade. Tudo aconteceu nas férias de verão – entre o colégio e a faculdade – um romance de verão, por assim dizer. E então nós tomamos rumos distintos.

Quando disse a ele (sobre o diagnóstico de HIV), recebi mensagens de amigos dele – lembre-se de que eram mais velhos que eu – dizendo que eu era apenas um menino bobo, que estava inventando e até coisas piores.

Então, eu só quis que ele fizesse o exame e recebesse o tratamento para que não continuasse transmitindo o vírus, pois a maioria das infecções vem de pessoas que não sabem serem portadoras do vírus.

Mas eu nunca descobri se ele sabia. Ele me disse que já havia feito o exame e que estava limpo… aos 16, você não tem condições de contestar isso.

‘Foi como ser atropelado por um ônibus’

Tinha acabado de fazer 17 quando recebi o diagnóstico. Lembro que foram muito, muito gentis comigo na clínica. Depois lembro de ter voltado pra casa e ter de tomar esta decisão… Eu tomei a decisão de ir para meu quarto e fechar a porta, em vez de dizer o que havia acontecido.

Foi como se eu tivesse sido atropelado por um ônibus… porque, quando eu tento lembrar, foi quase uma sensação física de ser atingido com força. Lembro que chorei. O que me disseram era muito diferente do que se diz hoje.

Não eram os tempos da epidemia de Aids… os remédios estavam disponíveis e eram bons, cada vez melhores, mas me deram o prognóstico de que viveria cerca de 37 anos. Ter um número definido assim naquela idade foi algo muito duro de lidar.

‘Não reconheci quem eu era’

Acho que o momento chave foi quando passei dois dias acordado depois de uma festa, sem dormir nada. Eu me olhei no espelho e não reconheci a pessoa à minha frente.

Percebi naquele instante que as drogas e o álcool não tinham necessariamente tomado o controle da minha vida, mas que tinha abusado deles de uma forma que não me fazia bem.

Não era um vício grave, mas eu estava me automedicando através do álcool. Estava só tentando me livrar dessa silenciosa ansiedade e estresse acumulados ao longo dos anos.

Percebi que se não fizesse algo a respeito naquele momento, poderia se tornar um problema sério e real. Algo tinha de mudar.

Eu recebi ajuda profissional nos anos de faculdade e tive apoio. Pensei que eu estava OK até o fim do ano passado, quando tive um piripaque.

‘Acho que foi a vergonha que me controlou’

Acho que a vergonha é o principal… é a única doença que tem um julgamento moral ligado a ela e até – num certo grau – um autojulgamento.

Eu era gay… mas cresci num mundo hétero. Você ouve que é moralmente errado, ou que o que você faz é sujo e deveria envergonhá-lo. Eu estava tomado por esse pensamento.

Aí você escuta aquele tipo de alerta – “ah, você vai ser punido”. Então era como uma profecia que se realizava, naquele momento, e ela era muito poderosa – e isso era a culpa que eu punha em mim mesmo.

Quando eu estava na escola, a única educação sexual que recebemos sobre um relacionamento gay foi um vídeo em que um homem gay morria de Aids.

Era completamente ultrapassado, mas essas mensagens que eu estava recebendo – de que eu era dispensável ou de que eu estava fazendo coisas erradas ou imorais ou algo assim – não estavam vindo da minha família, elas estavam vindo de todos os lados.

Fui absorvendo-as ao longo do tempo e, de repente, eu virei aquele estereótipo. Então acho que a culpa realmente me controlou

Eu precisava contar à minha família. Havia tentado muitas, muitas vezes, mas nunca deu certo. Então eu comecei a jornada de escrever a peça e comecei a articular as ideias através da minha escrita.

Aí eu decidi escrever uma carta para meus pais, irmãos e irmãs.

Passei uma tarde escrevendo tudo o que eu queria dizer. Disse a mim mesmo que não necessariamente precisaria enviá-la, só precisava escrevê-la e ver como me sentia a respeito.

Mas depois de terminá-la, eu me senti tranquilo e a mandei pelo correio antes que pudesse mudar de ideia.

Agi assim porque havia tentado muitas vezes dizer, sem sucesso. Também pensei que seria incapaz de contar quatro vezes seguidas sem virar uma ruína emocional ao fim do processo.

A resposta foi surpreendente, para ser sincero! Foi um pouco como muitas pessoas gays se sentem antes de sair do armário. Aquele medo do que possa acontecer… mas todos me mandaram mensagens e me ligaram e eles estavam bem. Só se sentiam mal por eu ter mantido aquilo em segredo por tanto tempo.

Minha mãe veio no dia seguinte e conversamos. Meu grande receio era que eles ficariam chateados por eu não ter contato algo tão importante. Mas minha mãe disse: “Só estou chateada porque meu filho teve de lidar com isso sozinho por tanto tempo.”

Foi o medo. Foi uma homofobia internalizada que muitos homens gays têm, além de uma camada de vergonha e de medo, e essas coisas são realmente poderosas. Mesmo quando você tem uma família compreensiva, é difícil contar para eles.

Mas me senti muito mais leve e muito mais capaz de lidar com algumas coisas e com a ansiedade acumulada. Costumava acordar cada manhã com um nó no meu coração, no meu peito.

Depois que contei à minha família, esse nó começou a se desfazer e pensei “meu Deus, você vivia com esta ansiedade castradora”. Toda manhã, a primeira coisa que sentia era um medo no meu peito, uma rigidez – e posso sentir isso agora, conforme falo a respeito.

Mas desde que comecei essa jornada, aceitar que sofri essa pane emocional e que fiz algumas decisões erradas e fazer as pazes com isso, aceitar que não preciso ser a pessoa perfeita que eu tentava ser – isso foi bastante libertador. ”

G1