João Pessoa, 20 de julho de 2014 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Hora do almoço. Entre ruídos dos clientes entrando e saindo do restaurante, um deputado e um assessor sentados à mesa com lápis, papel e calculadora. Após somas e projeções, o ranking dos eleitos estava pronto. A lista dos derrotados também. Simples assim, como dois mais dois são quatro.
A cena narrada é real e retrata o que é a eleição proporcional na Paraíba. Uma questão pura e simples de matemática, pelo menos na visão dos nossos agentes políticos. Os votos dos deputados são estimados com precisão a partir do balanço dos apoios de prefeitos ou lideranças da oposição nas cidades.
Em pleno ano de 2014, os currais eleitorais não são coisa do passado. Apenas se modernizaram. As táticas de arregimentação de votos é que apenas se sofisticaram um pouco mais, porém no frigir dos ovos seguem ainda a mesma lógica dos tempos áureos do coronelismo político.
O prefeito “x” diz sem medo de errar que tem “x” votos pra “dar”. A quantidade estipula o valor da “mercadoria” a ser negociada. Mais embaixo, o prefeito ou a liderança local inclui nos cálculos dos custos da “estrutura” de campanha os repasses a vereadores e cabos eleitorais.
Fechado o dito apoio, o deputado pode fazer as contas com razoável margem de segurança e projetar a votação aproximada necessária à garantia da eleição em determinada coligação. Um jogo de números desprovido de qualquer inspiração na essência da palavra política.
E é esse processo frio e desnudado de espírito público que termina virando anotação e rascunho na mesa de restaurante. O eleitor aparece como agente invisível, sem vontade e poder de decisão. Tão desimportante e descartável quanto o guardanapo usado pelo deputado e assessor naquele almoço de “negócio”.
*Artigo publicado na coluna do jornalista no Correio da Paraíba, edição do dia 19/07/2014 (sábado).
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CONVERGÊNCIA - 26/11/2024