João Pessoa, 10 de abril de 2014 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Nem o discurso de golpe e nem a supressão da legítima prerrogativa constitucional. Para anular as teses conspiratórias e a impressão de retaliação, Governo e Assembleia deveriam chegar a um consenso e adiar a apreciação das contas do governador Ricardo Coutinho, de 2011, para após o período eleitoral.
A dilatação do prazo atenderia aos dois lados e, sobretudo, o interesse coletivo. Qualquer discussão e votação neste momento de pleno processo de efervescência política serão contaminadas pela evidente e esgarçada briga eleitoral, o que abrirá espaços para toda sorte de interpretação.
Análise e fiscalização imprescindíveis nas contas públicas não devem servir de cavalo de batalha da oposição e nem muito menos o governo pode se valer da queda de braço para emparedar e constranger a Assembleia do direito que lhe cabe. Por isso, julgamento livre das pressões e inspirações políticas somente após as eleições.
É o que manda o bom senso e o espírito público vacinado de motivações menores. Se o Governo teme que essa votação renda desaprovação e conseqüente situação de inelegibilidade, concordará com a proposta porque o tal “golpe” ficaria fora de cogitação, nessa hipótese.
Se a oposição não quer usar a votação das contas para retaliar o governo e criar dificuldades na eleição, mas somente cumprir seu imperioso e inegociável papel, também não tem o que se opor. Para exercer seu digno mister, tanto faz agora ou depois de outubro e não estará abrindo mão de seu direito e dever.
Assim, após o frisson das urnas, o Legislativo poderá exercer sua prerrogativa sem permitir qualquer brecha para que o governador e seus aliados lhe acusem de boicote. Se for preservar sua elegibilidade o que Ricardo quer e garantir sua autonomia o que deseja a Assembleia, essa é a saída honrosa para os dois lados. O primeiro que discordar e atirar a primeira pedra estará assumindo suas verdadeiras intenções.
*Artigo publicado na coluna do jornalista no Correio da Paraíba, edição do dia 10/04/2014 (quinta-feira).
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