João Pessoa, 17 de fevereiro de 2014 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
“Chega de tentar dissimular/ E disfarçar e esconder/ O que não dá mais pra ocultar/ E eu não quero mais calar”. Trecho da letra do genial Gonzaguinha, sucesso romântico na voz da inconfundível Maria Bethânia, se encaixa na mesma balada dramática do fim do casamento entre PSB e PSDB da Paraíba.
O que era uma aliança com potencial e prazo de vida útil de até 16 anos de poder e revezamento entre Ricardo Coutinho e Cássio Cunha Lima se abreviou. Nenhuma surpresa para quem acompanhava a guerra fria – tratada anteriormente nesta Coluna – da relação tumultuada e marcada pelas desconfianças.
Ricardo governou buscando se desvencilhar da sombra de Cássio e, principalmente, do fantasma que se convencionou chamar de o “responsável” pela sua assunção ao Palácio da Redenção, uma leitura que sempre incomodou o socialista. Antevendo-o como possível adversário, Coutinho evitava levantar o moral e o cacife do senador e parceiro de caminhada.
Em três anos, Cunha Lima, por sua vez, pouco ou quase nunca fez uma defesa de mérito da gestão do aliado. As avaliações sobre o governo do PSB oscilaram na superficialidade. No máximo, elogios comedidos à decisão de Ricardo dar continuidade “as ações do seu período de mandato”. Uma porta aberta ao racha, se precisasse.
O socialista se esforçando para impor a identidade própria e se libertar da dependência. Na empreitada de enaltecer suas realizações botava os antecessores no mesmo balaio do atraso, sem eximir seu principal cabo eleitoral… O tucano se ressentia de espaço proporcional ao tamanho do seu grupo. Aqui e acolá estocou o governo do parceiro…
Até em casa, não há casal que sobreviva sustentado pela cortina frágil das aparências. Cedo ou tarde o destino é a separação. Por mais que ainda tentem disfarçar, Cássio e Ricardo chegaram ao final da canção. “Não dá mais pra segurar/Explode coração”.
Bastidores – Operadores políticos do governo juram que, em janeiro, Ricardo renovou gestos e ligações para “resolver” a chapa com Cássio. “Mas ele já estava predisposto à candidatura”, concluiu um deles.
Fiasco – Outro estrategista procurou o senador, de quem ouviu rosário de queixas e o alerta da necessidade de “conversa definitiva”. Empresário e amigo dos dois foi escalado interlocutor. Sem sucesso.
Gota d’água – Apesar de esboçar resistência, o tucano estava inclinado a ceder apelos de aliados, mas os ataques do deputado Tião Gomes (PSL) à sua gestão, incluindo o falecido pai Ronaldo, foram o estopim. Cássio não digere o “silêncio” do governador. Foi isso que quis dizer quando, por telefone, registrou discordância do tom de Raíssa Lacerda.
No singular – Na próxima segunda-feira, quando o PSDB se reúne para avaliação do quadro, o partido entregará “o cargo” que detém no primeiro escalão. Deliberará pela saída de Gustavo Nogueira (Planejamento).
Revide – Preparado previamente para o mote, o núcleo duro socialista mandou fazer as contas dos contracheques de DNA cassista. Pelos cálculos recentes, só os mais conhecidos somariam mais de R$ 180 mil.
Munição – O governo nem esperou pelo iminente anúncio formal da candidatura do PSDB e já tem arsenal arquivado e pronto para detonação em várias frentes. Quem é de dentro antecipou: de grosso calibre.
Jogada – Presidente do PPS, Nonato Bandeira ligou para Cássio assim que obteve aval da direção nacional do seu partido para aliança com o PSDB na Paraíba, costura liberada só em mais dois Estados (RJ e MG).
Fora do ar – Inicialmente, o secretário de Comunicação, Luís Tôrres, achou possível conciliar o cargo com a manutenção do seu blog na internet. Mudou de idéia. Vai suspender a página nos próximos dias.
Pesado – Até mesmo o próprio deputado Trócolli Júnior (PMDB) se assustou quando ao consultar o dicionário viu o significado da palavra salafrário, termo usado contra o secretário Waldson Souza.
In loco – Influente conselheiro do Tribunal de Contas do Estado recebeu ilustríssima visita, semana passada, em seu apartamento residencial. Quem soube do encontro ficou curioso pra saber a pauta.
Cara a cara – Não deverá ser fácil o encontro marcado pra hoje entre o vice-governador Rômulo Gouveia, que se antecipou no anúncio de apoio a Ricardo, e Cássio. São trinta anos de amizade e relação política.
Sozinho – Repentina e isoladamente, o vereador Helton Renê (PP) acossou o secretário Ronaldo Guerra, reconhecido operoso até pela oposição. Helton deve estar querendo provar que toda unanimidade é burra.
Regresso – Na volta ao batente depois de férias seguida de atestado médico, minha gratidão aos colegas Wellington Farias, inicialmente, e Adelson Barbosa, que tocaram o barco durante minha longa ausência.
PINGO QUENTE – “Tem político na Paraíba que acha que é Deus”. Do governador Ricardo Coutinho, durante passagem pela cidade de Caiçara, em recado com endereço certo.
*Coluna do jornalista publicada no Correio da Paraíba, edição do dia 17/02/2014.
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