João Pessoa, 20 de dezembro de 2019 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Da Granja Santana para a nova estadia na Penitenciária Juiz Hitler Cantalice no bairro de Mangabeira, em João Pessoa, capital da Paraíba. Traçando paralelo com a célebre obra de Lima Barreto (Triste Fim de Policarpo Quaresma), acompanhamos todos o desfecho triste e melancólico da carreira política do ex-governador Ricardo Vieira Coutinho (PSB). Com todo respeito ao personagem literário.
Ricardo regressou da Europa em voo da TAP, e recebeu voz de prisão ao aterrar – gosto da palavra lusitana – em Natal no vizinho Rio Grande do Norte, na mesma rota que fizeram outrora, os navegadores de Portugal até o Brasil. Não como desbravador ou simples degredado, mas acusado, com fartas provas, de ser o chefe de uma grande Organização Criminosa, a famigerada ORCRIM da Cruz Vermelha. O áudio da conversa com o operador Daniel Gomes foi fatal.
Coutinho começou nesta sexta-feira (20) o seu ocaso, decretado na última terça-feira (17) com a ordem de prisão no bojo da Operação Calvário – etapa denominada Juízo Final. Melhor nome não poderia ter sido escolhido. Como cristão católico, creio na remissão dos pecados – até os mais graves – quando existe o verdadeiro arrependimento. Tanto o ex-governador quanto os seus auxiliares e amigos, comparsas no grande assalto aos cofres da Paraíba, ainda podem buscar a reconciliação com a justiça dos homens e, sobretudo, com a justiça divina. Antes, porém, devem devolver os milhões desviados da Saúde e da Educação. Cabral, que não é o Pedro Álvares, mas o Sergio Filho, ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, pode ser um exemplo a ser seguido por Coutinho. De governador e líder político, hoje é delator em um cenário que resguardadas as devidas proporções, é muito similar ao da Paraíba.
Chegamos, portanto, no ápice de uma operação muito bem conduzida pelo coordenador Octávio Paulo Neto (GAECO), com todo o respaldo do Ministério Público do Estado da Paraíba (MPPB), notadamente na pessoa do procurador-geral de Justiça Francisco Seráphico Ferraz da Nóbrega Filho. Vale destacar que não teve pirotecnia e muito menos rompantes de vaidade dos órgãos de investigação e seus promotores. Pelo contrário, conduziram os trabalhos com muita discrição e profissionalismo. A sociedade paraibana, sedenta por justiça e honestidade, reconhece o relevante serviço prestado pelo seu Ministério Público.
Enquanto setores da imprensa e da sociedade cobravam pressa e um rápido desfecho, os investigadores seguiam em silêncio. Sob forte pressão, conduziram todo o processo, culminando em uma etapa com provas robustas e sem espaço para contestações.
Acompanhei através da cobertura de colegas jornalistas a audiência de custódia do ex-governador Ricardo Coutinho, levada a cabo no Tribunal de Justiça da Paraíba. Cabisbaixo, Ricardo alegou ser inocente de todas as acusações. Disse ser dono apenas de uma empresa de consultoria, denominada Philipéia, que, segundo ele, não emitiu uma nota fiscal sequer, diante dos supostos danos de reputação que ele alega ter sido vítima no corrente ano.
O também ex-prefeito da Cidade de Nossa Senhora das Neves, disse ainda que o seu governo foi o mais investigado. Ricardo em tom mais manso, afirmou ter indicado amigos e pessoas que não eram do seu círculo pessoal para os órgãos de controle (como MP e TCE, por exemplo) conforme o texto constitucional estabelece.
No artigo de estreia aqui no MaisPB, falei sobre as “placas tectônicas” na política paraibana e mencionei o surgimento de uma nova liderança, ao mencionar o atual governador João Azevêdo (sem partido) após rompimento com o seu antecessor e padrinho político, Ricardo Coutinho. Contudo, diante do silêncio sepulcral do atual chefe do executivo, fico pensando: será uma independência natimorta após a busca e apreensão no Palácio da Redenção no último dia 17? O tempo haverá de responder.
A cidadania paraibana espera que as investigações possam avançar e os acusados sigam recebendo o mesmo tratamento digno. Que a imprensa livre e independente siga com coragem no encalço dos corruptos.
Nossa pequenina e brava Paraíba, não pode tolerar impunidade, nem tampouco que essa história vergonhosa que alguns escreveram nos últimos anos um dia possa se repetir.
A corrupção mata de várias formas. Quando não oferece um serviço de saúde pública digno, quando nega uma educação de qualidade. Sonhos são destruídos. Investidores correm para outras paragens. Oxalá tenhamos um desfecho definitivo nessa trama engendrada por megalomaníacos do poder.
Precisamos olhar para frente com os olhos firmes e com os passos na esperança e na justiça entre as pessoas de boa vontade.
Viva a Paraíba! Viva o povo de bem deste sublime torrão do nordeste brasileiro!
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