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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

O aniversário virtual

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publicado em 08/06/2020 às 09h32

Tenho uma neta que completou quatro anos no início do mês, em plena quarentena. A aniversariante não dá conta do que se passa e insistia com os pais festejar seu aniversário, chorou muito e eles sem saber o que fazer. Quando um primo, que possui curso de informática, resolveu celebrar a festa de forma virtual, convencendo-a de que era muito mais importante comemorar daquela maneira.

Apesar da frustração estampada em seu rostinho, os argumentos convenceram-na. Ficou ansiosa e os pais concordaram. O polo temático foi o da princesa cinderela, com bolo, docinhos e salgadinhos. Não faltaram presentes dos parentes, entregues por delivery. Às 18h do dia 2 de abril, a família ficou convidada através de vídeo pelo aplicativo Zoom. Feito o teste, conseguiram entrar em rede. É como participar de um “meeting”, a reunião começa, podendo-se falar com a aniversariante e vice-versa. Mandar beijos e cantar parabéns! Corte do bolo etc. Fizemos a pequena Leticia feliz e demonstramos que a amamos.

Na cibernética o virtual surgiu como uma consequência. A internet faz parte de nossas vidas, intrínseca ao sistema pós-moderno de comunicação, informação e organização do segundo milênio. A comunicação de muitos com muitos num momento escolhido em escala global existe em redes interligadas e conectadas em todo o planeta, com uma velocidade e rapidez antes nunca vista e com um poder de adaptabilidade e flexibilidade de natureza revolucionária. As mensagens são computadas nas nuvens para que não se percam.

Vejam, neste momento de solidão, se não tivéssemos o celular para interagirmos? Coloca-nos a par dos fatos, encurta as distâncias de quem amamos, aproxima nossos sentimentos e nos proporciona laser. Com ele quebra-se um pouco a monotonia; seria pior se não existisse. Contribui para amenizar a demora do tempo e o passar mais rápido. Dá-nos até a sensação de que se pode viver sozinho, que o homem com a tecnologia se bastam. Ficar à margem desse processo tecnológico é se fazer praticamente excluído da sociedade do século XXI. A internet converte-se em um novo lócus avançado de conhecimento e linguagem em um ambiente de relação social, utilizada e difundida pelo homem, de cujo uso cabe-lhe tirar vantagem.

Às vezes, quando se trata do virtual, se tem a sensação do irreal, mas, ao contrário, suscita a “realidade virtual” Levy (2008). É o aqui e agora. O que se constata é que existe uma desterritorialização capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e em locais determinados, sem contudo estar presa a um lugar ou tempo, em particular. Rompe fronteiras de tempo e espaço e não há propriedade definida; depende do interesse dos sujeitos em se apossar delas. Portanto, existem sem estar presente, isso tanto acústica como semanticamente. Foi o que aconteceu no aniversário de minha neta. O ciberespaço estimula relacionamentos interativo-virtuais que independem de espaços geográficos e coincidência de tempo, que pode ser de pessoa a pessoa ou de grupo a grupo. Estes acontecimentos modificam os conceitos de tempo e espaço, de interior e exterior; questão de público e privado, do que é próprio e do que é comum, do que é subjetivo do que é objetivo. Tudo toma outro significado. Portanto, a Word, Wide, Web (WWW), permite a interconexão com mundos virtuais disponíveis, tornando o espaço cibernético ilimitado e em constante transformação.

Verifica-se, concretamente, que a tecnologia é uma ferramenta que se torna imprescindível como condição à vida e isto foi e está sendo comprovado pela humanidade, que assim se beneficia em todas as dimensões: científica, técnica e sócio política. Graças a essa ferramenta se pôde festejar o aniversário de Leticia, reunir a família e expressar sentimentos. Com certeza já teve aniversários mais alegres, mas durante sua vida nunca esquecerá a singularidade deste ano. Espera-se que a ciência avance ainda mais para encontrar a solução da tão esperada cura da pandemia.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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