João Pessoa, 09 de junho de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O que poderia escrever, pensei, para o Portal MaisPB, atendendo o pedido do amigo e jornalista Kubitscheck Pinheiro? Que temas poderiam atrair a atenção dos leitores, fugindo do lugar-comum, da mesmice, quando não se fale em outra coisa a não ser COVID-19? Afastei-me até um pouco do noticiário que vem insistentemente nos saturando de assuntos que se tornaram entediantes, seja pelo viés político ou pela conotação pessimista – sem esquecer as fake news – que incomodam e constrangem a todos, nessa prolongada e quase insuportável quarentena de cerca de 3 meses.
Muito já se falou dos mais variados aspectos da pandemia: a facilidade de transmissão, que se processa em escala geométrica , já que uma pessoa doente é capaz de transmitir a, pelo menos, dois outros indivíduos; os aspectos clínicos, com diferentes matizes de gravidade – felizmente, em cerca de 80-85% trata-se de uma enfermidade benigna, podendo, no entanto, evoluir para formas críticas, notadamente em grupos de risco; o diagnóstico laboratorial, cujo padrão-ouro é a RT-PCR, e o de imagem, ensejando o estadiamento da patologia; o tratamento – e aí é onde reside a grande polêmica, com muitos fármacos em jogo, alguns ainda usados de forma empírica; e a prevenção, com base no isolamento social, ( também muito controverso), nas medidas de higiene, como lavagem das mãos e álcool em gel, e o uso de máscaras. Infelizmente, ainda não dispomos de uma vacina, o que decerto seria um grande alívio para nós, e ficamos à mercê da imunização de rebanho para conseguirmos banir o vírus.
E, nesse contexto, as doenças endêmicas foram de certa forma negligenciadas: as arboviroses Dengue, Chikungunya e Zica, as viroses da infância e a bronquite asmatiforme, tão comuns nessa época do ano; no adulto, o infarto agudo do miocárdio, a hipertensão arterial, o diabetes, as nefropatias e as doenças pulmonares crônicas, enfim uma série de doenças que foram relegadas a um plano secundário , como se tivessem deixado de existir. O fato é que muita gente é compelida a ficar em casa em face da pandemia e se auto-medica, não busca o atendimento necessário, o que tem contribuído não raro para o desfecho desfavorável de sua enfermidade. Recentemente noticiou-se que em Nova York a mortalidade por infarto do miocárdio foi oito vezes maior nesse período, em comparação com o anterior à pandemia, atestando a ineficiência, a negligência e o retrocesso na assistência ao paciente , mesmo em países ditos do primeiro mundo.
Mas, em meio a esse emaranhado de preocupações, a esse turbilhão de informações, dúvidas e inquietações vem um grande lenitivo: eis que somos premiados – eu, minha família e os pais Matheus e Larissa, com o nascimento de minha segunda netinha, Maria Júlia, a Juju, que se soma à Sofia, a Sossô, hoje com quase quatro aninhos de idade, proporcionando-nos esse momento mágico e ímpar de felicidade.
Que o Criador cubra de bênçãos e proteja essa nova criaturinha, nossa família e nossos irmãos, e nos livre desse mal que aflige a todos nós, experiência e desafio nunca enfrentados por nossa geração.
*Médico Pediatra
Presidente da Academia Paraibana de Medicina
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TURISMO - 19/12/2024