João Pessoa, 17 de junho de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

Antes de tudo, a Prevenção!

Comentários: 0
publicado em 17/06/2020 ás 11h48
atualizado em 17/06/2020 ás 11h57

No seu notável livro “As Dez Maiores Descobertas da Medicina “ , seus autores Meyer Friedman e Gerald Friedland elencaram a descoberta da vacina antivariólica por Edward Jenner, em 1796, dentre os dez feitos mais extraordinários da Medicina, pois possibilitou a erradicação do globo terrestre, nos idos de 1980, de um mal que no século XIX era responsável por uma taxa letalidade de 20-40%, durante a epidemia da varíola. À época , estava em voga um procedimento conhecido como variolação, durante o qual se inoculava o próprio vírus vivo extraído das lesões de enfermos, trazendo resultados animadores, apesar de resultar numa mortalidade de 12%, bastante elevada para os parâmetros atuais, mas muito inferior à da própria doença e, por isso contou com a franca aceitação da população, inclusive da nobreza.

Jenner teve a extraordinária percepção, própria dos grandes cientistas, que encontram na simples observação – a exemplo de Einstein no que concerne à teoria da relatividade -, a resposta a grandes questões que nos desafiam, ao constatar que as mulheres ordenadoras de leite desenvolviam lesões nas mãos semelhantes às da varíola e não contraíam a doença. Resolveu então inocular parte do fluido obtido de lesões de uma ordenadora numa criança de 8 anos, James Phipps, o qual, após o procedimento, apresentou leve reação, semelhante a uma forma branda da enfermidade, e ficou imune à varíola.

Hoje sabemos que a varíola bovina é causada por um vírus de muito baixa virulência. Muitas vacinas usadas na atualidade se baseiam exatamente nesse princípio, ou seja, nelas são utilizados como antígeno vacinal ( componente que induz à formação de anticorpos), o próprio microorganismo atenuado por meios que não cabe aqui comentar; é o caso das vacinas tríplice viral, anti-pólio oral, anti-varicela, contra febre amarela, etc. É claro que atualmente existem diversas outras tecnologias sofisticadas na produção de antígenos vacinais, como os das vacinas de vetores, das vacinas produzidas por engenharia genética, etc.

O escopo da prática médica está estribado no tripé: Prevenção, Tratamento e Reabilitação. Decerto, a vacinação é a forma mais eficiente de proteção contra doenças.

A produção de uma vacina até sua segura e eficaz aplicação na população poderá levar muitos anos. Em tempos de Covid-19 é o que mais almejamos. Muitos grupos estão trabalhando ininterruptamente no mundo inteiro, inclusive no Brasil, para obtê-la em tempo recorde, pois somente assim poderemos nos livrar desse mal, a exemplo do que ocorreu com a varíola no século passado, e também em relação à poliomielite, cujo último caso no País aconteceu em 1989, na cidade de Sousa-PB.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB