João Pessoa, 30 de junho de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O mundo era bem diferente. Não conseguiria precisar quantas coisas mudaram. No clima, nos costumes, nas modas. Tudo funcionava com mais simplicidade. Menos brinquedos. A criatividade dos garotos é que inventava as brincadeiras. Meu pai contava que colecionava ossinhos. Dava nomes. Fazia uma boiada. Tornava-se grande fazendeiro, num espaço de dois metros de chão. Os jovens não pensavam em se tornar milionários antes dos trinta. Apenas, em ser bem-sucedidos. Ou ter uma casinha branca e uma janela para ver o sol nascer. Inspiração da juventude que Gilson traduziu em sua música.
Simplicidade de um lado e umas coisas sem noção do outro. Poucas regulamentações. Numa propaganda inesquecível, cavalos selvagens correm e belos correm no campo, cowboys os acompanha, com atitudes de homens fortes, machos mesmo. E um texto: “só alguns homens sabem que a beleza dos cavalos selvagens está na sua liberdade. […] Venha para o mundo de Marlboro”. Assim, éramos induzidos pelas propagandas e, no afã de ser adulto, fumava-se em identificação com homens feitos. Meninas também eram induzidas por imagens de sedução e sucesso, ligadas ao Charm.
Proibiu-se propaganda de cigarro. Depois, um gênio dos cartuns criou a antipropaganda mais eficiente que conheci: Fumar é brega. Quando todos queriam ser chiques, e ninguém gostaria de ser associado a alguma coisa cafona. O número de fumantes foi progressivamente reduzido. Na geração dos meus filhos, não conheci nenhum fumante. A indústria, então, criou um jeito moderno de fumar, com cigarro eletrônico. Novamente associado ao novo, além de prometer poucos riscos. Depois de doze mortes e 805 casos de hospitalizações nos EUA, denunciaram o alto risco das chupetinhas modernas. Quando um jovem me procurou viciado em cigarro eletrônico e com vários sintomas incômodos, senti como se tivéssemos avançado, caminhado tanto, seguido tanto, para acabarmos voltando ao que era brega: o fantástico mundo de Malrboro.
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HORA H - 22/11/2024