João Pessoa, 29 de julho de 2013 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, se despede hoje à noite do Brasil, mas quando embarcar de volta à Roma, da base aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, terá deixado grandes ensinamentos a todos nós brasileiros. No campo da religião, independente dos credos, e até da política.
Aos seus companheiros de batina, Jorge exortou com exemplos reiterados na sua agenda a Igreja Católica sair dos seus templos de paredes finitas e ir até o povo para levar uma mensagem eterna, que nem o tempo, nem as perseguições, nem o desalento e a descrenças puderam esmorecer.
A pé, de barco, em cima de animais, Jesus e seus apóstolos assim fizeram cruzando a Judéia para levar esperança, arrependimento e vida nova aos povos. Eles nunca esperaram pelas multidões, mas iam ao seu encontro. As dificuldades de locomoção e as extensas distâncias não impediram as palavras e atos que mudaram a história da humanidade.
Jorge foi categórico nos seus discursos. Pregou a mensagem redentora da cruz e reavivou o verdadeiro sentido do cristianismo. Pregou Jesus Cristo, o nazareno, ressuscitado, vivo e único interlocutor entre os homens e Deus. Se só tivesse dito isso, sua peregrinação pelo Brasil já teria valido. Não há cristianismo sem Cristo.
Ao se despojar dos luxos, mordomias e protocolos, Jorge se despiu das regalias tão comuns aos nossos políticos e governantes, anestesiados pela falsa sensação de eternidade que o poder empresta. Deixou uma lição aos nossos gestores: exerçam seus cargos como servos. Não como senhores ciosos pelo banquete dos privilégios.
Jorge chama tanto atenção porque tem sido muito mais Francisco que papa. Bom será quando nossos gestores forem mais cidadãos que políticos.
Resumo – A coluna coletou uma série de frases e passagens que marcaram a estada do papa Francisco pelo Brasil. Instantes de muita comoção, acolhida, ecumenismo, simplicidade, humildade e fé em Cristo.
Exército – “Quero que saiam fora. Quero que a igreja vá às ruas”, conclamou o papa durante missa para católicos argentinos na Catedral Metropolitana, do Rio. Uma convocação que transcende denominações religiosas.
Brasil versus Argentina – Com sua visita ao Brasil, o papa com seu carisma e sorriso fácil conseguiu o primeiro grande milagre: ser o primeiro argentino saudado, amado e adorado pelos brasileiros. Inteligentemente, Jorge fez questão de brincar com a histórica rivalidade logo na chegada: “Vocês já têm um Deus brasileiro, queriam um papa brasileiro também”.
Narcotráfico – O papa enveredou por temas complexos e dilemas que afligem a sociedade brasileira. Não se furtou a botar o dedo na ferida aberta das drogas. “A praga do narcotráfico exige um ato de coragem de toda a sociedade”.
Posição – Ele ousou entrar na polêmica da liberação das drogas. “Não é a liberação das drogas que vai reduzir a dependência química”, assinalou durante visita ao Hospital São Francisco de Assis, que trata de dependentes químicos.
Resgate – No complexo de Manguinhos, pacificado pelo governo do Rio, Francisco instigou uma reflexão. “Não há esforço de ‘pacificação’ duradouro com uma sociedade que abandona parte de si mesma”. Eis o desafio cristão.
Essência – “A violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”, ensinou Jorge Mario Bergoglio em pronunciamento no Complexo de Manguinhos, um dos espaços até então mais violentos do Rio.
Perseverança –Na mesma Favela Varginha, em Manguinhos, ao discursar sobre violência, Francisco fez um apelo universal: “Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e solidário”. Uma missão de todos nós…
Receita – “Bote fé que a vida tem um novo sabor. Bote fé, bote esperança, bote amor”.
Do papa Francisco na Festa da Acolhida em Copacabana, pinçando palavras que se completam: fé, vida, esperança e amor.
Desprendimento – O líder religioso defendeu a imperiosa necessidade cristã da partilha, seja das coisas materiais, seja das coisas do coração. “Tudo aquilo que se compartilha, se multiplica”, ensinou Francisco na zona norte do Rio.
Solidariedade – “Como diz o ditado, sempre se pode colocar ‘mais água no feijão”, disse Francisco, utilizando uma expressão tipicamente nacional para instigar o espírito solidário dos brasileiros contra as injustiças sociais.
Missão –Falando diretamente para a juventude do mundo inteiro, representada na Jornada Mundial no Rio, o papa fez um chamamento especial: “Os jovens têm que sair e fazer valer, sair e lutar pelos seus valores”.
Gesto – Na passagem pela cidade de Aparecida, São Paulo, Jorge Mario Bergoglio, o argentino, valeu-se do nosso ‘jeitinho brasileiro’ para pedir e pedir com humildade “Peço um favor, com jeitinho, rezem por mim”.
PINGO QUENTE – “A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração”. Do papa Francisco em discurso na Favela da Varginha, resumindo: o maior tesouro do homem vive na alma, onde ferrugem e nem o tempo destroem.
*Reprodução do Correio da Paraíba, edição do dia 28/07/2013 (domingo)
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