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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

As trapaças da sorte

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publicado em 04/07/2020 ás 07h00
atualizado em 03/07/2020 ás 19h57

Muita gente (mas muita gente mesmo) acredita em cartomantes, simpatias, rezadeiras e outros que tais. Amigos e principalmente amigas minhas, que ao longo do tempo foram explorados por essa corja, são o motivo desta coluna.

O senhor J., que vivia num casamento horrível, foi a uma cartomante no bairro do Bessa. Na penumbra da sala, com incensos queimando, a madama usou uma voz gutural e profetizou: “- Vejo uma morena que o fez sofrer no passado. E vejo uma galega que fará você sofrer mais ainda no futuro”. J., embasbacado, acreditou: “- Mas a senhora é demais. Sabe tudo. Essa aí é a minha mulher, que era morena e na semana passada pintou o cabelo de louro”.

Outro amigo, o querido F., consultou-se com o famoso professor Zartur, que por largo espaço de tempo manteve um programa de rádio aqui em João Pessoa. Com um turbante na cabeça arranjado a partir de uma toalha de mão (que mais parecia uma rodilha de carregar balaios de feira) e um roupão puído da Artex o sensitivo foi taxativo com F.: “- Vejo que o senhor tem dois filhos”. Meu amigo indignou-se. Levantou-se e gritou: “- Mas o senhor está completamente enganado, eu tenho quatro filhos”. O professor Zartur continuou sentado, deu um risinho e definiu: “Quem foi enganado foi o senhor. Os outros dois não são seus filhos”. O quebra-quebra só foi resolvido com a chegada do (à época) Delegado Manoel Raposo.

O programa de rádio do professor Zartur ia ao ar nas madrugadas de João Pessoa. Para vocês terem uma ideia de como funcionava num dia qualquer, imaginem que iniciava-se com uma musiquinha de sinos, parecida com uma campainha daquelas que antigamente existiam nas portas das casas; blim-blim-blim , blim-blim-blão. Em seguida ouvia-se a voz da secretária do vidente, que lia as cartas remetidas pelos seus milhares de fãs. Eu acredito mesmo que essas cartas eram escritas lá no estúdio da estação de rádio. Mas vamos lá; numa voz bem romântica a tal secretária lia: “- Meu querido professor Zartur, eu moro em Cabedelo e vevo (assim mesmo) cum um omi. Nois tem seis fì, mas ele é casado com outra com quem tem mais oito fí. O que eu queria saber, professor Zartur, é se eu vou ser feliz com ele OU NÃO”. Esse OU NÃO era pronunciado pela secretária em voz bem gutural, para deixar os ouvintes em suspense. Novamente ouviam-se os sininhos e então o professor Zartur ocupava o microfone, com aquele caraterística voz aveludada: “- Minha prezada consulente que se intitula A1paixonada de Cabedelo; como você não mandou dizer o seu signo astral nem o do seu amado, não tenho condições de profetizar se vocês serão felizes OU NÃO (aqui ele também elevava a voz , quase trovejando), mas sinceramente, cara consulente, esse negócio de ter quatorze filhos não é coisa de gente não, viu? É coisa de mocó!”.

Consta que esse professor Zartur teria ido embora de João Pessoa depois de ter atendido um famoso político a quem disse que o via em cima de um caminhão, com uma multidão acenando para ele. Batiam muitas palmas. Animado, o consulente perguntou ao professor Zartur se podia assistir na bola de cristal ele acenando de volta para a multidão, em agradecimento. E o professor Zartur: “- Não, porque o seu caixão está fechado”.

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