João Pessoa, 10 de julho de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em certa ocasião um professor de literatura disse para uma aluna que no Brasil quem melhor escrevia parágrafos era Rubem Braga. Esta conhecia uma amiga do escritor e tratou de procurá-la para ter um encontro com o mestre da crônica.
A amiga do “fazendeiro do ar” telefonou e disse para o velho Braga (foto) a pretensão da aluna. Seria fácil, pois não é novidade que o escritor após se separar de Zora Seljan, mãe de seu único filho, adorava a companhia feminina, dando preferência às mulheres belas, porque tanto quanto Vinícius, a beleza para ele era realmente fundamental. Dentre as belas da época, frequentadoras de sua cobertura em Ipanema, a musa inconteste foi a atriz Tônia Carrero.
A cobertura era um verdadeiro pomar, onde frutificavam mangas, cocos e outras frutinhas, além de plantas como palmeira para onde vinha cantar um sabiá em pleno Rio de Janeiro, nada ficando a dever à Canção do Exílio do maranhense Gonçalves Dias.
Bom de copo no sentido etílico da palavra, recebia as visitas deitado numa rede bebendo seu uísque com gelo. Não havia comidinhas nem outros agrados culinários, porque o melhor de tudo era o bate papo com o gênio da falta de assunto. Isso mesmo. Foi o poeta Manoel Bandeira que disse que Braga quando escrevia sobre um tema específico era excelente, mas quando produzia um texto sobre a falta de assunto era genial.
Embora cobrado pelos amigos, nunca escreveu outro estilo literário senão a crônica. Em companhia dos escritores Fernando Sabino e Otto Lara Resendo, fundou a editora Sabiá, cabendo ao amigo cartunista Ziraldo fazer a logomarca. Foi por essa editora que o público leitor brasileiro conheceu os grandes escritores latino-americanos Gabriel Garcia Marquez, Jorge Luis Borges e Pablo Neruda.
Voltando ao pretenso encontro da aluna com o mestre da crônica, este ao ser indagado sobre o segredo de escrever tão bem, principalmente parágrafos, como disse o professor de literatura, respondeu que não sabia, pois escrevia de ouvido.
Nascido em Cachoeiro de Itapemirim morreu aos 77 anos, em 17 de dezembro de 1990, sabendo que entraria no céu, pois “…mesmo que São Pedro tenha ordem para não me deixar entrar, ele ficará indeciso quando eu lhe disse em voz baixa: ‘Eu sou lá de Cachoeiro…’”.
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