João Pessoa, 24 de julho de 2013 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Em se tratando de Paraíba, a conclusão da Polícia Federal de que houve superfaturamento de R$ 1,6 milhão do Jampa Digital e suposto desvio de recursos para campanha eleitoral deve provocar ainda mais ebulição na nossa efervescente política e voltar a colocar o governador Ricardo Coutinho no alvo da artilharia.
No campo jurídico, qualquer juízo de valor a esta altura é precipitado. No curso do processo e suas instâncias próprias, haverá oportunidade à ampla defesa e contraditório, o que não teria ocorrido até agora, conforme se queixou o governador, através de sua assessoria, e demais envolvidos no episódio.
Mas o efeito na opinião pública e os desdobramentos políticos são inevitáveis pela repercussão dos fatos na mídia nacional. E é aí onde a articulação do governo deve focar atenção para evitar maiores dores de cabeça e estancar desgaste à imagem do governador. Uma tarefa espinhosa diante do relatório da PF e do tratamento dado pela grande imprensa.
Com base fragilizada na Assembleia, não será fácil segurar a oposição e um eventual pedido de abertura de investigação com base nos dados apresentados pela investigação da Polícia Federal. Uma CPI, por exemplo, em ano pré-eleitoral e paralela a um processo judicial vira um calo para qualquer governante.
Surge então no caminho turbulento de Ricardo a necessidade de atravessar esse deserto provando por A mais B que nessas suspeitas levantadas em torno do Jampa não há sua digital. Em jogo, está o que o governador ostenta de mais consistente no seu currículo, forjado em décadas de militância política e exercício da gestão pública: a reconhecida credibilidade. Preservá-la, neste momento, é o desafio.
Em Nota – A Secretaria de Comunicação do Estado pôs em xeque a credibilidade da Polícia Federal, acusando equívocos, “ausência de zelo” na investigação e falta de garantia de direito de defesa do governador no inquérito.
Envolvimento – “Até o presente momento, o governador não obteve acesso ao relatório, mesmo sendo parte interessada e indevidamente envolvido, visto que não foi ouvido ou indiciado no curso do inquérito policial”, diz trecho da Nota.
Dinheiro pra campanha – “A alegação de que teria ocorrido desvio de recursos do programa para utilização na campanha eleitoral de 2010 não passa de exercício de ilação, considerando que não há nenhuma conexão entre o faturamento das empresas mencionadas com a prestação de contas que foi aprovada sem qualquer restrição pelo Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba”, defende-se o governo.
No twitter – Autor da emenda do Jampa Digital quando deputado federal e alvo de suspeitas da PF, o vice-governador Rômulo Gouveia (PSD) manteve sua agenda inalterada nesse fim de semana. “A verdade sempre aparece”, postou.
Dissociação – Aliás, na ágora paraibana houve quem comentasse, sentisse falta e estranhasse e muito a ausência de defesa aberta e expressa ao vice-governador e ‘companheiro’ na nota encaminhada pela Secom à imprensa.
Providências – O prefeito Luciano Cartaxo (PT) já fechou questão: a Prefeitura exonerará imediatamente ocupantes de cargo de confiança indiciados no processo e abrirá processo administrativo contra efetivos.
Em cena – A Executiva Municipal do PT de João Pessoa volta a se reunir hoje à noite. Entre os assuntos da pauta, a posição oficial que o partido adotará frente ao desfecho do inquérito da Polícia Federal do Jampa Digital.
Reforma já – “Não é a primeira vez e nem a última que acontecerá isso enquanto não fizermos a reforma política com financiamento público de campanha”. Do presidente do PT de João Pessoa, Jakcson Macêdo, sobre o caso.
Aprofundamento – A oposição na Assembleia tem agendada uma série de conversas e entendimentos a respeito de como o bloco procederá na Casa diante do relatório da PF. Líderes entendem que há fato determinante para instalação de CPI.
Oba-oba – O líder do governo, Hervázio Bezerra (PSDB), se apressou e descredenciou logo o movimento de setores da oposição no âmbito do Legislativo. “A tese de CPI é só pra querer fazer o desgaste político”, diagnosticou.
Distinção – “Não podemos transformar esse país numa inquisição. Uma coisa é um indiciado, outra coisa é um condenado”, diferenciou Bezerra, acrescentando que ainda haverá a fase do direito de defesa de todos os citados no caso.
Defesa – O ministro Aguinaldo Ribeiro, então secretário de Tecnologia, afirma que a licitação da Ideia Digital foi conduzida pela Secretaria de Administração, e que ele não licitou, contratou ou pagou essa empresa na época.
Erro – O presidente do PSOL, Fabiano Galdino, considerou equivocado e pouco salutar o direcionamento da nota da Secom contra a PF. “Atacar o trabalho da Polícia não é o melhor gesto diante das denúncias”, ponderou.
PINGO QUENTE – “É injusto”. Do vereador Ícaro Teixeira, de Alagoa Nova, autor de projeto que reduz os três meses de férias dos colegas na Câmara Municipal.
*Reprodução do Correio da Paraíba, edição desta segunda-feira, dia 22/07/2013
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