João Pessoa, 30 de julho de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O momento que o Brasil está passando me fez lembrar de um grande artífice das letras. Jornalista, dramaturgo e escritor, interpretou como ninguém o homem brasileiro, imortalizando-o num personagem “canalha de olhar rútilo”. Ele mesmo, o Palhares, criação do pernambucano Nelson Rodrigues, também conhecido como o reacionário e a flor de obsessão.
Nelson Rodrigues (foto) odiava a esquerda, mas era por ela respeitado. Foi Nelson quem concedeu a primeira entrevista das famosas páginas amarelas da revista Veja, no dia 04 de junho de 1969, no auge do regime militar. Indagado sobre o que ele era, exatamente, na política, respondeu: “Eu sou um anticomunista que se declara anticomunista. Geralmente, o anticomunista diz que não é. Mas eu sou e o confesso”.
Mas o por quê de ser anticomunista foi assim esclarecido por Nelson: “Porque a experiência comunista inventou a antipessoa, ou anti-homem. Conhecíamos o canalha, o mentiroso, o vampiro de Düsseldorf. Mas, todos os pulhas de todos os tempos e de todos os idiomas, ainda assim, homens. O comunismo, porém, inventou alguém que não é homem. Para o comunista, o que nós chamamos de dignidade é um preconceito burguês. Para o comunista, o pequeno-burguês é um idiota absoluto justamente porque tem escrúpulos”.
Mas, e o Palhares? Ora, “o Palhares, o Canalha, que era tão canalha que quando beijava a cunhada, era no pescoço”. Dizia que todo o mundo gosta do Palhares, todo o mundo inveja o beijo na cunhada e que o Palhares é feito de todos os brasileiros.
Em tempos de delação premiada, fico a imaginar quem é mais Palhares dentre os delatores e delatados, quem seria mais canalha a beijar, não no pescoço, mas sugar impiedosamente os fartos seios dos nossos cofres públicos.
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