João Pessoa, 06 de agosto de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O Conselho Federal de Medicina, através da Comissão de Humanidades tem promovido ampla discussão sobre a humanização da medicina, difundindo a necessidade de incorporação nos currículos das escolas médicas de disciplinas de humanidades.
Revendo a história de nossos antepassados, é fácil constatar sua afinidade com a filosofia, a antropologia, a sociologia, a música, a literatura e as artes, matérias que com o passar dos anos ficaram praticamente restritas ao domínio de áreas específicas e que, decerto, muito poderão contribuir para moldar a formação do médico, ensejando uma melhor compreensão do paciente, uma visão global do ser humano no espectro de suas necessidades biopsicosociais e espirituais. Consoante pontuou Garma, desde Freud “ a enfermidade deixou de ser a lesão de um único órgão, passando a ser de toda a personalidade”.
Dessa maneira, a familiaridade com essas importantes áreas do conhecimento humano, ajudariam no fortalecimento da relação médico-paciente, na construção mais fidedigna de sua história , etapa primordial para o diagnóstico e êxito terapêutico, consolidando, por outro lado, numa situação de irreversibilidade, a empatia, a compaixão, quando devem prevalecer o apoio e a solidariedade no alívio do sofrimento e da dor na hora derradeira.
A verdade é que o grande progresso da era tecnociência, se por um lado agregou notável benefício à prática médica, promoveu, de certa forma, o distanciamento entre o médico e o paciente. É fundamental, portanto, que envidemos esforços no sentido de fortalecer essa relação fiduciária, de respeito, de confiança , um dos pilares mais importantes da prática médica, que envolve, de um lado uma pessoa que que pede auxílio e, do outro, alguém depositário da solução do seu problema.
Caminhamos para uma superespecialização na área médica, com inevitável fragmentação da pessoa. As Humanidades podem contribuir para a superação desse viés, através compreensão do homem em sua totalidade, em sua complexidade multidimensional: corpo, alma, consciência transcendental. Essa visão global decerto terá decisivas implicações terapêuticas.
Além disso, conforme dispõe a Declaração de São Paulo, documento que resumiu as conclusões do último Congresso de Humanidades Médicas realizado em julho de 2019, “As Humanidades, inspirando métodos transdisciplinares, integrando intuição, emoção, sentimento, pensamento, propondo práticas que associem ao rigor científico necessário a criatividade e a imaginação, podem provocar o recrudescimento profundo da fraternidade e da solidariedade.
A deontologia como ciência dos deveres profissionais e a diceologia como ciência dos direitos profissionais não são suficientes para despertar uma consciência ética em seu sentindo mais abrangente. Que as Humanidades – aqui exaltadas através de princípios fundamentais – em diálogo com a Medicina inspirem, para além da simples observância de códigos e artigos, um compromisso ético nascido do senso pessoal profundo de responsabilidade e amor incondicional pela vida em todas as suas manifestações, em todas as situações, sem injunção jurídica ou institucional”.
*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina
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