João Pessoa, 13 de agosto de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
“ De médico e louco , todo mundo tem um pouco”, diz um velho adágio popular, ratificando o hábito costumeiro da nossa população: cerca de 35% dos medicamentos são adquiridos nas farmácias , sem a devida prescrição médica. Muitas vezes, o próprio balconista faz o papel do médico.
O amplo acesso à informação, o “Dr.Google”, cria uma situação propícia para o paciente fazer seu diagnóstico e se automedicar. Dessa maneira tal prática representa hoje problema preocupante de saúde pública, podendo causar sérios danos às pessoas.
Não podemos menosprezar os extraordinários benefícios que os fármacos têm trazido ao tratamento dos pacientes, reduzindo substancialmente a mortalidade geral,assegurando a cura ou propiciando uma melhor qualidade de vida aos portadores de enfermidades crônicas. Doenças como as neoplasias cujo diagnóstico até poucas décadas passadas representavam uma sentença de morte, hoje , com frequência são curáveis,graças ao grande arsenal terapêutico disponível . O mesmo se diga em relação às doenças infecciosas, com o advento dos antibióticos e quimioterápicos , a partir da descoberta das sulfanilamidas e da penicilina.
No entanto, a facilidade de acesso a medicamentos, em nosso País, tem favorecido a automedicação, cujos danos podem ser imprevisíveis.
Todo remédio possui efeitos colaterais e, quando ingerido de forma incorreta, pode causar mais malefícios que benefícios ao organismo. Dizia Paracelso , famoso médico, alquimista e físico suíço do século XV, que “ a diferença entre o remédio e o veneno está na dose”.
Os efeitos indesejáveis se iniciam pelo risco de se mascarar um quadro clínico, quando se usa um fármaco para o alívio de sinais ou sintomas, sem um diagnóstico firmado. A postergação do diagnóstico poderá resultar em sérias consequências, agravando o prognóstico.
O uso de doses inadequadas, por outro lado, pode resultar, desde a ineficácia, quando a dose for insuficiente, até overdose da substância no organismo, levando à intoxicação. Nesse contexto, há que se considerar o risco da resistência bacteriana, resultante do uso indiscriminado de antibióticos. Em muito boa hora , a ANVISA editou em 2011 a RDC nº 20 que dispõe sobre o uso de antimicrobianos, segundo a qual sua dispensação somente poderá ser feita mediante prescrição, minimizando o problema.
Interação medicamentosa é uma situação a ser considerada frente ao uso de associação de medicamentos; neste caso, um pode anular ou potencializar a ação do outro.
Reação alérgica e dependência a algumas substâncias também podem resultar do uso inadequado de fármacos, sem a devida prescrição e a orientação médicas. Nesse particular, há que se considerar a dependência química a drogas ilícitas que tantos males têm trazido ao indivíduo e à sociedade.
Por outro lado, o hábito de armazenar remédios em casa, as “famosas farmacinhas” podem gerar outros inconvenientes, como a confusão entre medicamentos, ingestão após o vencimento, ineficácia em face do mau armazenamento, e ingestão acidental por crianças.
O uso de medicamentos deve ser criterioso, sob a prescrição e a orientação daquele que está devidamente habilitado para isso, propiciando, assim, a segurança e o êxito terapêutico, sem esquecer o preceito hipocrático “ Primum non nocere”.
*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina
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TURISMO - 19/12/2024