João Pessoa, 15 de agosto de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um amigo do K, sem nenhum assusto ou cerimonia, ligou dizendo que: “vamos morrer todos”. Óbvio. Há mais de cem anos minha mãe dizia que ninguém ficaria para semente. Me esperem aí que eu vou ali tomar um chazinho com a Monja Coen.
Esse amigo, estava conversando com sua mulher, se comprava ou não um carro novo (adoro dizer automóvel), e ela, respondeu: “Compre querido, vamos morrer todos”. O mundo praticamente acabando e tem gente ainda pensando na morte. Eu é que não me sento na cadeira de Gerdau da Varanda Tropical, esperando a “muerte” chegar.
Corri pra sala e botei para tocar Billie Holiday no Monterey Jazz Festival de 1958. Senti uma sensação de alivio, a sonoridade infinita nos meus ouvidos. A ausência de guitarras é compensada pelo piano de Mal Waldron (tão bom – escutem e contenham os arrepios). Conter arrepios não está fácil. Já, calafrios. O leão está solta nas ruas, além das “cobras” brasilienses.
No disco Billie está acompanhada por um trio de sopros magnifico, formado por Gerry Mulligan, Benny Carter, Buddy de Franco no clarinete. Na secção rítmica, Eddie Khan no baixo e Dick Berk na bateria. Graças ao jornalista Silvio Osias, hoje entendo um pouco de blues, jazz e soul.
Quando eu era pequeno, ouvia Robertos Carlos cantar na Rádio Alto Piranhas de Cajazeiras, (nunca entendi por que Piranhas?), tinha um programa Domingo com o Rei (não lembro se era esse o nome), e eu pensava que Roberto era o autor de todas as canções, mas na distância vi seu vulto desaparecer.
O meu amigo que vai comprar um carro zero às vezes, dá soco verbais nos idiotas. Ele gosta de Drummond, mas foi apaixonado por JulieTa, a filha do poeta mineiro. Às vezes encontro com ele no Clã do Djavan, acompanhado de Thelma Ramalho, a namorada que sonhei. E que tudo mais vá pro inferno. O inferno é aqui? Outro dia vi um grafite numa rua de Tambaú – “Maconheiro não! Sommelier de Cannabis”. Céus!
A voz de Billie Holiday entra no meu coração. A voz soa sempre bela, mesmo quando desaparece debaixo dos motores de um helicóptero do Governo, que vez em quando sobrevoa minha casa, ou aquele milionário que só usa a Ferrari para enlouquecer meu cachorro, que sequer, lhe sorrir latindo. A pandemia é foda.
É um privilégio estar vivo e poder ouvir Billie Holiday cantar, como se estivéssemos lá, de volta para o futuro. Tantas músicas me alegram no trompete de Chet Baker. Meu filho Vítor adora ele, mas ainda vão viramos o disco. Infinda melancolia, porém reconfortante, que vem da diva Billie. Outro dia chorei ouvindo o Swing de Henri Salvador, o preto francês mais brasileiro do mundo.. Quando H Salvador morreu, meu filho estudava no Colégio Evolução e na travessia me perguntou, se eu gostava do som dele, respondi: da arte de fazer dançar a tristeza, meu filho.
Outras viagens já se espreitam. Vou comprar um avião e… dentro de mais um minuto estaremos no Galeão….
Levem-me tudo… menos as ilhas desertas. “Sonífera ilha, descansa meus olhos, sossega minha boca, me enche de luz”.
Ontem quando voltávamos do Detran (fomos pegar nossas carteiras novas – validas até 2025), Vítor disse: “Pai essa canção When the music´s over, que está tocando é do The Doors e no final ele diz, music is your only friend until the end”. ( a música é único amigo até o fim)
Eu adoro essa canção – são 11 minutos de pura perfeição. Até terça
Kapetadas
1 – Quem quiser que goste de mim do jeito que sou: feio, inteligente, agradável e amável.
2 – Quem será que disse que “A hierarquia é como uma prateleira: quanto mais no alto, mais inútil”?
3 – Som na caixa: “Vou comprar dois automóveis, um pra mim outro pra ti”, Vita Farias
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OPINIÃO - 22/11/2024