João Pessoa, 20 de agosto de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Desde priscas eras, a busca pelo aumento da expectativa de vida do homem, pela imortalidade tem sido uma preocupação constante. Na Idade Médica, obter a pedra filosofal era um dos objetivos dos alquimistas, que almejavam conseguir com o mineral, a transmutação de qualquer metal em ouro, e da mesma forma, o Elixir da Longa Vida, que garantiria a imortalidade.
É bem verdade que muito se conseguiu, quando se compara a esperança de vida no decorrer da história da humanidade, desde o tempo dos nômades caçadores coletores, passando pela era da agricultura à revolução industrial, mas estamos muito distantes dessa visão utópica. Assim, o interesse pelo aumento da expectativa e da qualidade de vida do homem tem motivado um turbilhão de pesquisas. Por outro lado, a qualidade de vida dos idosos, entre os quais, incidem as doenças cardiovasculares, metabólicas e as patologias crônico-degenerativas emergem como motivo de preocupação, ensejando um planejamento mais adequado das ações do nosso sistema de saúde. Importa não apenas a longevidade, mas igualmente contribuir para o envelhecimento saudável e, decerto, o estilo de vida é peça fundamental nesse contexto.
A influência da genética é corroborada a partir da observação de que o tempo de vida varia entre diferentes linhagens de um mesmo modelo de pesquisa (ou seja, leveduras, camundongos, moscas etc).A partir daí, buscou-se identificar os genes relacionados à juventude ou ao envelhecimento, e chegou-se à conclusão de que existe uma complexa relação entre os vários genes e que, cada um com sua função, interfere em elementos de todos os níveis (do celular ao sistêmico) para resultar na longevidade. Dentre eles, destacam-se os genesenvolvidos na manutenção celular, os relacionados com o controle metabólico e nutricional, e os implicados em efeitos sistêmicos (elementos cruciais na saúde cardiovascular, imunidade e controle de inflamação). Influências, muitas vezes cumulativas na expressão de genes desses grupos, sãoresponsáveis pelo peso da genética na longevidade.
O estilo de vida passou a ser valorizado, quando se observou que mesmo pessoas com genética semelhante poderiam ter estados de saúde totalmente diferentes com base no modus vivendi,evidenciando que a genética não seria o único determinante da longevidade, consoante se pensava. Elementos como alimentação, atividade física, sono, manejo de estresse, exposição ao tabaco e ao álcool, podem ter apreciável impacto.
Recentemente foi publicado no periódico British Medical Journal(BMJ) um estudo observacional relacionando cinco elementos de um estilo de vida saudável com três doenças crônicas de grande impacto:diabetes mellitus, doenças cardiovasculares e câncer. O estudo envolveu cerca de 73.000 mulheres e 38.000 homens que responderam a questionários sobre seu estilo de vida e, posteriormente, foram acompanhados e avaliados quanto à da incidência de uma ou mais dessas 3 doenças, além da esperança de vida dos participantes .Através de um escore próprio adotado pelos pesquisadores, os seguintes parâmetros foram avaliados: dieta( com base no Alternative EatingHealthy Index ), tabagismo, atividade física moderada ou intensa ( 30 minutos ou mais/dia), ingestão de álcool e índice de massa corporal (IMC).
Os resultados, como seria previsível, evidenciaram que a expectativa de vida e o tempo livre de doenças foi tanto maior quanto maior a pontuação no escore de estilo de vida.
Por outro lado um ponto importante a se considerar é a interação entre a genética e o estilo de vida, dois elementos determinantes da longevidade e do envelhecimento saudável. Nessa particular, emerge na atualidade a importância da epigenética que trata, de forma simplificada, da influência do meio na expressão dos genes, promovendo alterações estruturais no DNA que “ligam ou desligam” sua transcrição, e a posterior tradução do RNA, sendo a mais conhecida delas a metilação. É possível até mesmo estimar a idade cronológica de uma pessoa pelo padrão de metilação de diversas células.
Fica evidente, portanto, que, aliado aos conhecimentos recentes da epigenética, é necessário investir-se na adoção de um estilo de vida saudável, como medida preventiva e terapêutica.
Importa não apenas viver muito, mas viver com qualidade!
*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
TURISMO - 19/12/2024