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Onaldo Queiroga é juiz da  5ª Vara Cível de João Pessoa  e escritor e é conhecer e colecionador da obra de Luiz Gonzaga

A travessia

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publicado em 28/08/2020 ás 09h30

Resumir a travessia onde venci a COVID-19 é algo difícil diante do longo e doloroso trajeto percorrido, tanto é que já comecei a escrever um livro registrando as dores vivenciadas, como também as lições extraídas e as bençãos que Deus misericordioso me proporcionou, permitindo-me uma nova data de nascimento.

Foi tudo muito rápido. Dia 12 de maio de 2020 cheguei ao Hospital da Unimed, o quadro se agravou e dia 13 fui comunicado que seria entubado. Lembro-me ter ligado para meu filho Antônio Queiroga Neto, comunicando sobre a entubação e passando todas senhas de cartões se créditos e de contas bancárias. Ali rezei três Pai Nosso e três Ave Marias. Intimamente falei com Deus, ocasião em que disse: Se for chegada a minha hora, agradeço por toda vida que vivi e peço ao Senhor que ampare a minha família. Mas, caso o Senhor entenda diferente, me conceda nova chance, uma possibilidade de viver.

Logo fui entubado. Contudo, segundo consta, velozmente meu estado de saúde foi se agravando. Na época, inexistia na Paraíba tratamento com uso de plasma, o que levou a recomendação médica de remoção urgente para São Paulo. Dia 15 de maio, sob o comando médico do Dr. Murillo Assunção, segui em uma UTI no ar para o Hospital Albert Einstein, onde permaneci 26 dias entubado. Durante esse período, de nada me lembro.

Quando acordei na UTI do Einstein confesso que de início imaginei que havia morrido, que estava em um Hospital Espiritual, do outro lado da vida. Sem poder falar, diante de uma traqueostomia, olhei para todos os lados, só vi camas, pacientes e enfermeiros. Agitei-me. Foi então que se aproximou um enfermeiro, me acalmou. Depois e veio o médico que, com calma, falou-me tudo que havia ocorrido.

Foram dias difíceis. Muitas alucinações, 22 dias com a traqueostomia, duas sondas nasais e uma luta incessante e feroz para debelar dois fungos que se alojaram nos meus pulmões. Depois de 57 dias hospitalizado veio a alta hospitalar diante da negativação da COVID-19.

Deus me deu a vitória, me permitiu continuar a viver. Restaram as sequelas a serem enfrentadas. Com a perda de 14 quilos de massa magra nos membros inferiores e superiores, além de uma deficiência pulmonar, passamos a focar na fisioterapia e agora, com paciência, deixar o tempo fluir e aguardar o restabelecimento pleno da saúde, o que já ocorre sob as bênçãos de Deus.

Diante de tudo, muitas lições. Às vezes questionamos Deus por situações que acontecem conosco, mas não temos a humildade de reconhecer que essas situações, muitas vezes, surgem diante da falta de cautela; por agirmos com imprudência terminamos envolvidos em momentos indesejáveis. No nosso caso, em instante de imprudência o vírus me alcançou. Mas Deus, com sua misericórdia infinita me permitiu viver e aqui estou eu para contar a história, a história de um milagre.

É preciso carregar a simplicidade. Parafraseando Padre Fabrício: “Perante Deus, sempre de joelhos, e para o enfrentamento das adversidades do mundo, de pé, com coragem e fé, sem temer a luta”.

Quem leva Deus no coração jamais pode temer qualquer batalha.

Acredito ainda ter outras missões para cumprir. Percebo que diante de tudo que passei, muitas coisas tornaram-se pequenas. O importante é ter a consciência do poder da oração, de caminhar com o Senhor, possibilitando a leveza espiritual, o exercício da paciência, da solidariedade, do perdão e do amor.

Agradeço a Deus pelo dom da vida, a equipe médica, como também a toda minha família por nunca desistir de mim, aos amigos que formaram uma gigantesca e emocionante corrente de oração clamando ao Senhor pela minha vida e saúde.

Amém.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB