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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Surfando nas “Ondas” de Virginia Woolf

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publicado em 29/08/2020 ás 07h00
atualizado em 28/08/2020 ás 19h43

Farto deste pardieiro, dos idiotas e terceiros, até da cidade que nunca esteve melhor cotada nos guias espirituais, o mar do Cabo Branco ficou vermelho e não chamaram o sanfoneiro Moisés Molina, no clima, mas veio uma romaria de curiosos e, a cada instante, pela lente do Fantástico, juro, não juro, sei que não jurei mentiras, mas não sigo sozinho surfando n´As Ondas (1931) de Virginia Woolf, (foto) (1882/1941), que muitos não gostam.

“Eu passarei como uma nuvem por cima das ondas”, escreveu Virginia Woolf. Não foi a única referência que ela deixou sobre o mar, que mais a atraía em vida. Eu lembro dela e esqueço, lembro de “Orlando” (1928), e esqueço em que ano estamos, mesmo que seja só pra dizer que estamos zen, necessariamente para o tempo que hoje se define, nessa onda de que estão voltando as flores.

Via e não ia, não vinha, não veio, deu na cara, na cara lisa, porque não alisa. Às vezes a conversa dava cabo de tudo, bastava isso, bastava nada e eu já vejo veias salientes em minhas mãos envelhecidas, mas vou bem mais.

Já preferi a preferida, a perdida, a perfídia, por tudo que se fez, que não se faz, e aqui se paga. Vejo e escuto carros amontoados de imbecis, que passam veloz apitando, nunca sensíveis, atropelando o velho com cabelos brancos nas narinas.

Virginia W me fez descobrir o silêncio como oração, como praga, “como uma onda no mar”, mas antes, se tivesse dito o não dito, partiria para uma ilha sonífera, mas hoje desinteresso-me dessa onda, já que de longe são fulanos e de perto, ninguém é normal.

Parece-me que o mar de Virginia é mais cinza que eu meu verde, ou sou eu que estou no Mar Morto e venho cá lembrar-me porque podia ser melhor, não foi, talvez, também, pudera, reparem bem: ou tudo ou nada, porque não era para cê, nem para ninguém.

Terei pena da loucura desses que parecem pensar que a vida seria mais fácil sem gente por perto, gente que não sabe viver sua vida sozinha. Banalizamos a morte. Muitos ficam, fincam, findam, mas não repartem.

Debaixo dos caracóis dos pelos das pernas delas lisas e macias e muita sabedoria sexual, eu não sou o Tao. Igual a Santa de Santana, que chorou sangue e arrasta o manto e quantos amantes tiveram a lucidez de trocar caricias, pelas tristes promessas tão vazias da força da grana.

Talvez seja da época. É como fruta, tem sal na boca. Época é o quê? Alguém que faça algo que nos dê sentido, socorro! Alguém me dê um marcapasso, no laço do largo da Gameleira. Algo que nos garanta que não se pode fabricar a razão, já foi, não tem como continuar amando loucamente a modinha de um amigo meu. Eu disse modinha? Minha garganta arranha.

“Meu”, eu queria estar em São Paulo, entre os anjos de Berlim e na boca um gole de vodca artesanal, aquela com um “matinho” dentro e só entende quem namora.

Não há risco no cisco no olho, dente por dente, oxente! O mundo que resta é um eco. Alôoooooo, tem alguém aí?. São tantos, tontos e as evidências, e tudo nos diz que a virtude se tornou inútil, mas eu preciso avisar que tem um atalho na procissão do Senhor morto.

A gentileza de Gentileza é uma atitude pagã. Os religiosos são (in)suportáveis? Os amantes são belos, mas frios e tristes como estátuas nas mil e uma ciladas. Em breve, quem disser uma palavra já falou demais. As línguas ferinas terão o gosto da areia nos olhos.

Ou inventam ou aumentam, ou internam ou enterram, outro modo não tem. Belos são os poemas infernais de Rimbaud (1854/1891), que, por vício voraz, ele um dia sentou a Beleza em seus joelhos. É demais o Arthur Rimbaud!
Eu prefiro “As ondas” de Virginia W, um estranho romance que narra as vivências de um grupo de seis pessoas através do tempo. Elas crescem, amadurecem e envelhecem, num processo visto de uma perspectiva interior. São indivíduos que arrastam as suas sagas, os seus medos e as suas solidões, vastas solidões. Atual?

Woolf expõe os temas que constituem a sua preocupação constante: a passagem do tempo, o sentido da existência, a realidade das coisas e a morte. E nada mais.

Vocês acreditam? Final feliz? É feliz mas não é final.

Kapetadas
1 – As pessoas parecem que não vivem mais sem engenhocas. Talvez por isso usem tão pouco o seu engenho.
2 – A hora errada de contar vantagem é quando todo mundo também está contando. Quer dizer, sempre.
3 – Som na caixa; “Do jeito que você me olha, vai dar namoro”, Bruno e Marrone. – essas canção parece ter sido feito para essa pandemia.

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