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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Quando belezas não são tristezas

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publicado em 15/09/2020 ás 07h00
atualizado em 15/09/2020 ás 07h30

(Para Francis Córdula Pinheiro)

As flores do jardim (foto) da nossa casa nascem e crescem a olhos nus meus, vistas e revistas. São de um colorido tão bonito, mas tão bonito… Sempre cercadas pelo verde, as folhas são seus vestidos, um verde mais verde, o mais verde que existe. Algumas são como se fossem recheadas, ou lisinhas, igual a pele de um bebê. Meu Deus, quanto beleza longe dos olhos do mundo. Quando a beleza não é tristeza, é algo raro! Muito raro!

De um sol para outro, é como se perdessem o veludo e o verde se transforma noutra flor, numa película que cobre os veios dessa leveza que eu vejo todos os dias. Como se vê, se imagina, é o jardim da minha mulher repleto de fluidos, luzes, tomadas de um filme de transparências. Um véu de noiva. Meu Deus, quanta beleza!

Agora eu sei que começo a amadurecer. Tal qual o abacateiro, o tomateiro, como ser do mato, em plena cidade e suas truculências.

Antes de perder sua beleza, a flor é colhida para ser vendida e embelezar pratos pelas festas e restaurantes da cidade e eu penso nelas, na luz do ambiente e vejo essas flores de maio, junho, julho, agosto, setembro, o ano todo.

Flores que fotografo todos dias pela manhã e elas me mantem vivo a pensar em translucides por uns dias, mas vejo que elas são frágeis e têm uma pele, uma segunda pele, que fica firme até certa hora e o vigor não passará para uma cor difícil de descrever, entre o lilás e o laranja, e depois, elas morrem, como se a vida fosse apenas o amanhecer.

Não sei os nomes das flores, que são cultuadas cuidadamente, impetuosamente, por minha mulher, não sei sequer porque chamam o tomate de tomate cereja, que também é colhido para nosso almoço. Não sei de nada.

Não sei qual flor chegará primeiro numa cor parecida, numa cor sem cor em sua nudez, na nudez das orquídeas que muitas lembram o sexo feminino, luminoso como é o gozo e, de depois do amor, é só chorar.

Vida sem vida é vida sem natureza, só concreto, apartamentos luxuosos, frios, tristes, sem um jarro de flores, sequer uma natureza morta. Logo adiante num vermelho cada vez mais quente e brilhante, eu me deparo com as papoulas, (essas, eu sei o nome desde pequeno), e elas são tão lindas, desde os botões.

A minha única tristeza de ver esses encantos nos cantos do jardim, (talvez seja culpa do sol que já está quente, é quase verão), é saber que uma flor comestível, em si, guarda o viver pouco, assim como nós que somos folhas verdes/secas e um dia, todo esse encanto será só memória.

Outro dia fui escrever quarentena – que é um pleonasmo para confinamento – e escrevi quaresma. Voltei atrás, corrigi. Segui. Estou vivo.

Depois, vi que o pensamento ficou ali girando em torno da memória da roseira da canção de Jobim – flor, sangue, amor, filha do mundo.

Nada de flores ou frutos no final, nada de transformações, só renascimentos. Só mais do mesmo. E essa vontade de escrever sem fim.

Às vezes amanheço triste. Há tanto tempo não bebo uísque. Absolutamente normal caminho na plenitude do universo desse jardim. Vejo a mulher dando água as plantas e o fixo meu olhar nesse instante, mesmo sabendo que há tristeza em cada beleza.
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Kapetadas
1 – Onde estava com a cabeça quando a perdi?
2 – Será que realmente tem como explicar uma obra de arte? Afinal, ela não é aquilo que cada um sente?
3 – Som na caixa: “Olha! Está chovendo na roseira, que só dá rosa, mas não cheira”, Tom Jobim.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB