João Pessoa, 15 de setembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um problema nunca resolvido. Se alguém me perguntasse qual a música de sua vida, o que eu diria? A música da vida, normalmente se liga a um grande amor. Eu acho que não. Se o amor passa, se passou, o significado mais profundo da música, também se foi. Pode ser que ela arremate lembranças boas ou devastadoras, sem, no entanto, traduzir-se na vida.
Eu sou mesmo problemático. Tanto que eu sempre achei que minha cor era verde. Admirava o verde. Até que, há dois anos, abri meu armário para escolher uma camisa. 70% delas eram azuis. Azul escuro. Azul listrado. Listras largas. Listras finas. Branco e azul. E lá estava uma única camisa verde, raramente usada. Aí me perguntei: como sua cor é verde, se só compras roupas azuis? Mudei de cor!
O verde foi uma canção de amor. Verde era o Nacional de Patos por quem meu irmão mais velho torcia, e por quem eu tinha um sentimento especial. Verde era o Palmeiras, de cujo time possuía um chaveirinho que eu gostava. Verde é a cor das esperanças. A cor festejada, tanto para arejar, quanto para tornar bela a caatinga nordestina. Verde é minha cor afetiva. Azul combina comigo. Minha cor no espelho. Jeans. Cabelo ao vento , gente jovem reunida.
É sobre música que ia falar. Músicas teriam muitas. Felicidade, na voz de Caetano Veloso, que, numa manhã sortuda, ouvi na rádio Sociedade da Bahia. E ela me invadiu. E me fez feliz. E nunca mais a esqueci. Canteiros, meu curso, meus colegas de turma, o violão de Fred, e aquele lamento toda vez que bebíamos: quando penso em você! Canteiros era de todos nós. Vai passar!
Garoto feito, ouvia nos rádios que passavam. “Há tempo, muito tempo que eu estou longe de casa….”Falava para mim. Há alguns anos longe de casa, ainda sentia falta de minha cidade. Da família. Quem vem do interior, sofre durante um semestre, um ano, até se adaptar à nova cidade e condições. E aquele amigo que embarcou comigo […] já se mandou! Lembrava das relações de pessoas mortas, desaparecidas, sequestradas pelo regime. As dores eram de todos nós! Um cara […] me disse que faz sol na América do Sul. Todas as silepses, as metáforas, escuro-luz, falavam-nos da espera por liberdade, de gente na rua, de sonhos voando nas cabeças de poetas e canções bradando um novo tempo.
Gente de minha rua… Como encontro, nessas telas de agora, essa gente de dentro de mim. Depois de havermos andado tão distantes. E quantas normalistas (foto) lindas não passaram nas minhas jovens fantasias. Queria, sim, o fim do termo saudade, porque era ela quem mais me visitava. Fazia-me um ser sozinho. Se foi bom? Não sei. Sigo o filósofo da minha canção: “Agora eu quero tudo. Tudo outra vez”.
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TURISMO - 19/12/2024