João Pessoa, 17 de setembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Recordo, quando cursava medicina ou já recém-formado, da grande preocupação com a desnutrição infantil que assolava notadamente nas classes menos favorecidas, responsável por elevadas taxas de morbimortalidade infantil.
Felizmente, hoje em dia, a patologia, embora preocupante, é menos relevante, sobretudo em relação às formas mais graves, que cursam com sérias complicações .
Em contraposição emerge um outro problema de saúde pública, a obesidade, que decerto não é um incômodo meramente estético, mas que pode resultar em diversas complicações como hipertensão arterial, doença arterial coronariana, diabetes, dislipidemias, etc.
Vivemos uma era de importantes mudanças epidemiológicas, demográficas e nutricionais: redução da mortalidade por doenças infectocontagiosas e do aumento por doenças crônicas em face do incremento na expectativa de vida do homem; modificação a pirâmide etária; transição nutricional em decorrência da urbanização, da globalização, da crescente oferta de alimentos industrializados, baratos e de fácil acesso, e da redução da atividade física.
Estima-se que cerca de 35% e 15% da população infantil apresentam, respectivamente, sobrepeso e obesidade, nos dias atuais.
O ganho de peso excessivo resulta de diversos fatores: predisposição genética, maus hábitos alimentares, vida sedentária, problemas emocionais, etc. Por outro lado lado, lamentavelmente, ainda persiste no imaginário de algumas mães a concepção equivocada de que a criança gorda é mais forte e mais sadia, e , com a melhor das intenções, empanturram os filhos de alimento.
O sedentarismo faz parte do estilo de vida de muitas crianças, que por vezes passam horas nas telas, nos computadores, nos joguinhos, nas redes sociais, com pouco dispêndio energético, não raro consumindo refrigerantes ou guloseimas.Foi-se o tempo das peladas, dos jogos e das brincadeiras de rua, mesmo porque, por conta da violência e da insegurança do trânsito foram abolidas, e as crianças ficam confinadas em casa ou no apartamento.
A ingestão demasiada de alimentos, muitas vezes gordurosos, de elevado teor calórico, os hambúrgueres, as fast food hoje fazem parte do cotidiano de muitas famílias, inclusive pela praticidade. Os pais frequentemente passam o dia fora de casa; a mãe precisa dividir suas tarefas de dona de casa com o trabalho, o que decerto implica o controle inadequado da dieta dos filhos. Neste particular, é forçoso lembrar o crescimento significativo da indústria de alimentos, colocando no mercado os mais variados produtos, incorporados no cardápio da casa por força da propaganda massiva, muitas vezes subliminar.
Refeições rápidas constituídas predominantemente de alimentos ricos em gordura saturada, embutidos, doces , refrigerantes, com alto teor de sódio e açúcares integram o cardápio de muitos adolescentes, representando de 35 a 55% do seu aporte energético diário; por outro lado , carecem de frutas, fibras, grãos e produtos lácteos. Tal padrão alimentar favorece o desenvolvimento da resistência à insulina, das dislipidemias e da aterosclerose, aumentando o risco de doenças crônicas na idade adulta.
Os dados aqui elencados nos levam a refletir sobre a necessidade premente de se primar pela educação alimentar precoce; os bons hábitos alimentares do adulto decerto se sedimentam na infância. Cuidar da alimentação nos primeiros mil dias de vida, a partir da concepção, assegurando uma dieta saudável à gestante, promovendo o aleitamento materno e a nutrição infantil adequada, é nossa meta, visando à sobrevida das novas gerações além dos cem anos de vida saudável.
*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina
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