João Pessoa, 28 de setembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há pouco mais de um decênio, um calejado sacerdote compartilhava ensinamentos com um grupo de jovens noivos: – “Às pessoas que me falam que não existe casamento perfeito, eu digo que casamento perfeito é aquele em que dois seres imperfeitos têm um compromisso obsessivo de não desistir um do outro.” Mourejando em terra sazonada, o padre e psicólogo Padre Dourado (foto) auxiliou inúmeros casais a não desistir de seus consortes e preservar as respectivas famílias.
Não são poucas as vozes que anunciam, há décadas, o fim da instituição do matrimônio. Entre outros argumentos, que escapam ao objeto dessa reflexão, os profetas do fim do instituto aduzem argumentos de ordem biológica (monogamia vs poligamia) e sociocultural (declínio das religiões, mudança de hábitos). A realidade contradiz as profecias. Em que pesem o aumento de divórcios e a diminuição de casamentos no comparativo 2018-19, as estatísticas da última década não trazem uma diminuição constante na quantidade (números absolutos) de casamentos no Brasil, que superam a marca de um milhão.
Volvendo ao plano endomatrimonial, o conselho do sacerdote ancião buscava preparar os nubentes para as frustrações e decepções que invariavelmente acometem o relacionamento matrimonial e, não raro, impelem um consorte a desistir do outro. Portanto, resguardadas situações extremas, faz-se necessário resistir ao ímpeto da capitulação, com vistas a preservar a sociedade conjugal, ambiente que julgamos mais adequado para a criação de filhos.
Por outro lado, cada par tem sua dinâmica. Nem todos vivem a arrulhar confidências aos atentos ouvidos do parceiro. A cumplicidade se expressa de múltiplas formas. Ao célebre jurista Clóvis Bevilaqua aprazia remeter contos em francês à sua noiva Amélia. Os contos tinham erros propositais que o jurista conservava pelo prazer de vê-los corrigidos por sua amada, conforme revelam as cartas do casal, organizadas por José Luís Lira.
No plano da ficção, a Srta Pioch, personagem de Günther Grass foi vítima de pisada no dedo do pé; apaixonou-se imediatamente pelo seu algoz, Sr. Vollmer, que cuidou diligentemente do membro magoado até que a unha caiu. A plena recuperação do dedo provocou, entretanto, o arrefecimento do carinho entre os dois. O parceiro propôs, então, pisar o dedo do outro pé, no que assentiu a Srta Pioch, que voltou a desfrutar do afeto do consorte. Exageros à parte, é fundamental que noivos e partes interessadas (amigos, filhos, sogras e cia limitada) saibam respeitar as idiossincrasias do casal. Por fim, tendo em vista que os dissabores e as mágoas fazem parte do repertório de sentimentos da vida conjugal, convém plantar roseiras antes que o amor se torne outonal e cultivar esperança e paciência, como quem espera a próxima estação.
PS: O texto é dedicado a minha amada esposa Patrícia, por ocasião dos nossos 13 anos de casamento
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TURISMO - 19/12/2024