João Pessoa, 29 de setembro de 2020 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Romanée Conti. Quase um romance? Não tem perigo, não.
Na verdade, eu queria escrever um texto com outro título, que seria ou será: ´É impossível saber tudo´. Aliás, muita gente “sabe tudo” e não sabe nada. Já até inventaram a vacina contra o Covid. Esquece.
Não sei nada sobre vinhos, essa bebida nobre. Gosto só de uma taça, talvez, a taça que a mulher de Baco bebeu e aumentou minha libido.
Por onde andaste que só agora te encontrei, meu prezado Dom Pérignon? Demasiado longe. Longe demais dos perigos dessa vida. Outro dia, pensei como a glosa pode se comparar ao original? Como assim? Não sei. Mas sei que preciso começar o texto de hoje, e não ficar delirando, porque minha vida não é um palco iluminado.
Minha luz não vem de um candeeiro, nem de um terreiro, vem de mim, além de mim. Do azul. Enquanto sinto o chão fugir debaixo dos caracóis e das conversas boas, tudo começa a fazer sentido. O jardim, por exemplo, cheio de flores, “no sorriso dela meu assunto”, mas não há novidade na chegada da Primavera, que tem o gosto levemente amargo do vinho. Ué, nem vinho tomei.
Se eu quisesse ficaria escrevendo até o fim do texto, com o pretexto de só abordar o assunto no último parágrafo, mas recomendo que não é bom deixar que tomem conta da garrafa. Porém, no meu sítio, não cabe nenhuma adega, sequer no lugar da cômoda meticulosamente dividida por tábuas revestidas de um tom escuro, ficando as meias e cuecas nas primeiras gavetas, até as meias mais curtas ao lado dos sutiãs, que nunca usei.
Tudo no seu devido lugar, menos os vinhos que estão deitados na sala, esperando uma visita, como seu eu fosse “o saudoso poeta” e viesse à Paraíba tocar um baião. O mesmo não posso pensar dos livros que estão numa desordem extraordinariamente normal.
Outro dia procurei meu livro “A Nova Desordem Amorosa” dos ensaístas Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut e não encontrei. Ai lembrei de Joel Falcone, que quando ia falar de vinhos, dava umas batidas no microfone para chamar a atenção dos enólogos e enófilos. Onde estávamos? Cadê o Sommelier?
Quase engasgado, de sobremaneira não poder fazer o mesmo nem em sonhos, fiquei pasmo quando um amigo me contou que estava num restaurante em Brasília etc…
De longe, meu amigo viu duas figuras que assaltaram nosso país, bandidos tarimbados, tomando garrafas do vinho Romanée Conti, que dizem, (não fui ao Google), são caríssimas. Custam os olhos da “nossa” cara.
Não deve ter sido por isso ou aquilo, que veio o dia de faxina geral, pegou muita gente que gozava com o P dos outros, fosse numa bolha ou se fechasse nela, até que alguém atirou a chave do cofre no Lago Paranoá.
Tanta gente que dorme bem, sem fazer o mal a ninguém e muitos dormiam embriagados desse vinho caro com o dinheiro do povo.
Mal eu não adivinhava quem, sonhando ou acordado, eu conseguiria escrever esse texto, sem tomar uma taça de vinho. Agora me digam: pra que existem presídios no Brasil, que não confinam as tais criaturas que roubaram nosso pais?
C ou não C? Eis a opção.
Kapetadas
1 – Vem aí: “No inverno, digo Inferno, vocês verão!”, novelas curtas e delirantes do K.
2 – Dudé amava Tica ,que amava Nino, que amava Penha, que amava Joaquim, que amava Tonha, que não roubava ninguém.
3 – Som na caixa: “Da taça que você bebeu, bebi eu sozinho/E o vinho escorreu, com gosto do seu batom”, de Chico César.
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TURISMO - 19/12/2024